terça-feira, 20 de novembro de 2012

Magic Mike


* O novo filme de Steven Soderbergh, Magic Mike, é inspirado na vida de Channing Tatum, um dos novos galãs de Hollywood cujos antecedentes denunciam passagens por clubes de striptease, conforme revela o filme.

* A primeira vez que fi Channing Tatum foi no filme Ela Dança, Eu Danço. Sem entrar no mérito de sua saúde física, incontestável, naquela estreia ele me pareceu um ator médio e um grande dançarino. Depois ele arrancou suspiros como o mocinho de Querido John, um daqueles romances açucarados do Nicholas Sparks que virou filme.

* Agora, em Magic Mike, ele é o Mike do título [ok, ele também era o John do outro título], um aspirante a marceneiro sem crédito que faz um bico de go-go boy pra driblar a crise. Os anos se passaram e ele continua um ator regular e um dançarino extraordinário. Um Gene Kelly do novo milênio.

Alternativa


* Num domingo recente, a caminho de casa, tive que interromper minha rota por conta da alegria da torcida do Fluminense, que fechou a Cônsul Carlos Renaux pra celebrar o título do Pó-de-Arroz – apelido carinhoso que o time ganhou pela sua popularidade entre a elite carioca.

* Nada contra a festa da torcida campeã. Pelo contrário, eu sempre sou a favor de comemorar nossas vitórias. Minha única ressalva é com o trânsito, já que desde sua última reforma, eu não tenho rota alternativa pra chegar em casa.

* O único percurso que me leva ao meu portão é atravessar toda a extensão da rua mais movimentada da cidade. Já estive com o pessoal do IBPlan pra levar minha reclamação acompanhada de uma sugestão, mas passam as semanas e eu continuo desperdiçando tempo e gasolina.

* Isso tudo pra contar que, diante da minha impossibilidade de chegar em casa, fui perguntar à autoridade policial responsável pela vigília dos foliões qual era a sua recomendação. Sabe qual foi? Estacionar o carro e esperar a festa terminar pra eu poder seguir meu rumo. 

Feice


* Eu não sei como foi que a coisa chegou nesse ponto, mas o Facebook no Brasil deixou de existir. Agora só tem o Feice. Apelido carinhoso pra rede social é de chorar calado.

* Cada vez que escuto alguém falar que viu no Feice, que curtiu no Feice e que deu bom dia pros amigos do Feice, eu sofro. Sofro de sofrer, verbo intransitivo.

Garbo


* Aconteceu numa mesa ao lado da minha, em pleno almoço de domingo. Uma fulana querendo ser simpática com o garçom fez o seu pedido e começou a cutucá-lo nos ombros como que a apressá-lo. Junto com isso, fazia gracinhas sem a menor graça. Dizia “rápido, pra já” junto com um risinho pra mascarar sua grosseria e insistindo numa intimidade que não existia.

* Só eu vi – ela não teve a chance – a cara de tédio do rapaz que a atendeu quando deixou a mesa dela. Pra coroar, ela tinha feito o mesmo pedido pra dois garçons. Quando viu que o primeiro chegou enquanto o segundo tirava o mesmo pedido, teve de pedir ao outro garçom que chamasse o segundo pra cancelar o pedido.

* A minha surpresa foi com as palavras que ela usou pra isso, que vou tentar repetir sem errar: “Ai, chama aquele garçom feinho do cabelo crespo pra cancelar o pedido”. O que é isso? Eu fico chateado só de ver alguém apontar o dedo pra outra pessoa. Agora, usar a feiura que estava nos olhos dela como referência?

* O pior é que não é uma cena tão isolada assim. Parece que o garbo limitou-se ao sobrenome da greta. A fulana estava fazendo aquela linha “sensual sem ser vulgar”, mas fracassou completamente na segunda parte porque não há nada mais vulgar que tratar mal as pessoas que estão ali pra te servir.

Esse Cara Sou Eu


* Já botou reparo na letra da nova canção do Roberto que está na trilha de Salve Jorge? Pois então. Esse cara não sou eu. Aliás, nem eu, nem ninguém. Mas o momento parece ser o de idealizar o tipo ideal. Milhões e milhões soltam suspiros por Christian Grey, que também só existe na ficção.

* Por falar no protagonista dos Cinquenta Tons de Cinza, o trocadilho do título só tem valor no original [Fifty Shades of Grey] e é sempre este o problema de traduzir: perde-se sempre alguma coisa.

* A versão do livro para as telas está na fase do roteiro e da especulação dos atores para os papéis principais. Um dos atores cotados para ser Christian Grey no cinema é Ryan Goslling e diversas atrizes também foram sondadas para viver Anastasia, entre elas Emma Watson e Amanda Seyfried.

A Iminência das Poéticas

* O prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera [Sampa] está acolhendo a trigésima edição do evento, que segue até o dia 9 de dezembro. Acho desnecessário informar que a mostra acontece a cada dois anos, já que o título é tão - como posso dizer? - autoexplicativo.

* No entanto, vale aqui uma reflexão matemática. A primeira Bienal de São Paulo aconteceu no ano de 1951, pelos esforços de Ceccilio Matarazzo que hoje dá nome ao edifício projetado por Niemeyer para lhe servir de sede. Pelas minhas contas, a trigésima Bienal deveria ter acontecido, portanto, em 2009, de onde a gente pode concluir que houve três falhas de calendário na história das nossas Bienais.

* Esta trigésima edição foi batizada de A Iminência das Poéticas e recebeu trabalhos de 111 artistas. O mais concorrido dos espaços é dedicado ao artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário, com seus bordados e sua missão de organizar o universo com a disciplina militar de quem serviu à Marinha e terminou a vida num sanatório.

* O momento é apropriado pra discutir os conceitos da arte, que cada vez mais amplia seus horizontes. O que notei nesta Bienal é que a forma como a arte se apresenta ao público, a sua disposição, acaba sendo tão importante quanto a obra em si.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Legado de Salvatore


* Gosta de coquetéis? Tenho um pra ensinar. Em uma coqueteleira, misture uma dose de um conhaque de 1778, meia dose de Licor Kummel de 1770, outra meia dose de Curaçao Dubb de laranja e um toque de Angostura Bitters de 1900.

* Tudo bem que os ingredientes são um tanto quanto raros, já que datam da época em que Napoleão Bonaparte era ainda soldado-raso, mas a receita acima foi criada por Salvatore Calabrese no London Playboy Club e leva o título de Salvatore’s Legacy [algo como O Legado de Salvatore]. Ele é reconhecido no mundo como “O Maestro” por sua mixologia de bebidas.

* A mistura ficou famosa por ser o drink mais caro do mundo. Quem quiser dar-se ao luxo, deverá desembolsar cinco mil e quinhentas libras, fora a gorjeta, com direito às coelhinhas da Playboy rodeando a sua mesa e bebericando no seu copo - o que, tratando-se de um drink de quase vinte mil reais, pode não ser tão legal assim. 

O Rei Leão


* Gilberto Gil é o responsável pela versão brasileira das canções de Elton John que compõem a trilha do musical O Rei Leão, que está sendo preparado pra ocupar o palco do Teatro Abril, em São Paulo, quando a trupe dos Addams desocupá-lo.

* O teatro Abril se tornou a casa dos grandes musicais importados da Broadway desde a montagem de Os Miseráveis, nos anos “zero zero”, inaugurando uma era que se seguiu com A Bela e a Fera, Chicago, O Fantasma da Ópera,Miss Saigon, Cats, Mamma Mia e, atualmente, A Família Addams.

* O grande responsável pela maioria das versões nacionais dos musicais aqui é Claudio Botelho, que normalmente faz um trabalho excelente e dificílimo: notem que não se trata de uma simples tradução, mas de refazer a letra respeitando a métrica, as rimas e o teor.

* Outro compositor celebrado já havia sido convidado para o ofício: Toquinho foi o autor das letras brasileiras no musical Cats, mas creio que o trabalho de Gil seja ainda mais difícil pelo fato de já existir uma tradução utilizada na dublagem brasileira do filme O Rei Leão, da Disney. 

De Pai Para Filho

* Estreou na última sexta-feira [26] em circuito nacional, mas não aqui no nosso vale tranquilo, o filme Gonzaga – De Pai Para Filho, sobre a vida do Rei do Baião Luiz Gonzaga, de seu filho Gonzaguinha e da relação complicada que se estabeleceu entre eles, quando o pai não acreditou que o filho era dele e a mãe morreu de tuberculose ainda moça, deixando o menino órfão aos dois anos de idade.

* O filme é comemorativo: este ano acontece o centenário do nascimento do Gonzaga pai. Aliás, dá pra dizer que o evento foi bem comemorado. Em fevereiro, a Unidos da Tijuca foi a campeã do carnaval carioca levando a história de Gonzagão para a avenida.

* O diretor Breno Silveira vem amparado pelo sucesso de bilheteria que foi Dois Filhos de Francisco, sobre a trajetória artística da dupla Zezé de Camargo e Luciano. Este ano, também já esteve nos cinemas com À Beira do Caminho, inspirado nas canções de Roberto Carlos.

* No elenco, uma dezena atores revezam os papéis de pai e filho em diversos momentos diferentes da vida, incluindo nesta conta os bebês. A mãe é interpretada por Nanda Costa, a grande estrela do momento, e Sílvia Buarque faz a madrinha que cria Gonzaguinha. 

Coletânea

* Pra entrar no clima de Gonzaga, preparei uma seleção musical. Não escolhi as do pai porque não fazem parte da minha discoteca, mas elegi uma dúzia de canções de Gonzaguinha que posso recomendar com vontade a quem quiser procurar.

* Bethânia interpretando Grito de Alerta e também Explode Coração, Zizi Possi com O Que É o Que É?, Elba cantando Caminhos do Coração, Simone gravou tantas, mas escolhi duas: Diga Lá Coração e Sangrando.

* Inclua também Fagner e seu Guerreiro Menino e o próprio Gonzaguinha cantando o samba É, trilha da novela Vale Tudo. Coloque ainda Nana Caymmi em De Volta ao Começo, Leila Pinheiro cantando Feliz, Jane Duboc em Começaria Tudo Outra Vez e arremate com Elis Regina e sua versão definitiva de Redescobrir.

* Se quiser uma trilha bônus, procure o grupo Chicas, do qual fazem parte Amora Pêra e Fernanda Gonzaga, filhas de dois casamentos diferentes do compositor, e acrescente o samba Geraldinos e Arquibaldos. Pronto! Taí o disco que pode ser a trilha sonora do doce novembro que está pra chegar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Final Feliz


* O país parou pra ver onde terminava a Avenida Brasil na sexta-feira que passou, com a chance de rever no sábado, como é de costume nos finais de novela. Eu lembro de uma única vez – mas não lembro em qual novela – que o último capítulo foi no sábado, sem direito a repeteco.

* O autor João Emanuel Carneiro passa a bola do horário nobre com a alma lavada e a difícil missão de segurar a peteca da audiência nas alturas: dizem que o último capítulo foi a maior audiência do ano.

* Aliás, eu comecei esse texto usando a expressão que mais se ouviu na mídia, “o país parou pra ver”, normalmente seguido da informação de que até a presidenta Dilma aguardava ansiosa pelo último capítulo, como se Dilma fosse um ser extraterrestre que não pudesse gostar de uma novelinha dentro dos seus pijamas.

* Dá pra dizer que foi um “grand finale”, e apesar de todas as lacunas que a história deixou, não pude deixar de me emocionar com a redenção de Carmen Lúcia. Adriana Esteves foi a grande estrela desta história e sua personagem merece lugar de destaque na parede da nossa memória.

* Quando Carminha tira Nina e Tufão da mira de Santiago e Jorginho chega naquele hangar onde se passa a cena, a vilã se enche de verdade pra falar para o filho que “você foi a única coisa boa que eu fiz na minha vida”. Depois, na cena em que conhece o neto, Carminha e Nina conversam sobre perdão – “E adianta não perdoar?”, foi uma bela resposta – e atendem o pedido de Lucinda com o difícil abraço da reconciliação.

Chupetinha

* Adauto, o personagem de Juliano Cazarré, ganhou um bloco inteiro no último capítulo com o drama da chupetinha e ainda sai de herói, vencendo seu trauma e levando o Divino para a primeira divisão. Qual foi o agrado pra tanta deferência é que eu gostaria de saber. Se bem que aquele marmanjo chorando pela sua “pepeta” foi hilário.

* Enquanto isso, ninguém soube do fim do Santiago que, aos quarenta e cinco do segundo tempo, se transformou no verdadeiro bandido. E nem do fim da Ágata, que parece que foi afastada pra não presenciar as cenas de violência no desfecho.

* E a Suelen? Anunciou sua gravidez bem antes da Nina e não apareceu com filho nenhum nos braços no último capítulo. A propósito, se fosse eu o diretor, teria feito uma cena nos moldes do filme Três Formas de Amar, quando três se torna um número par.

* No fim, nem sei o que foi mais divertido: se Suelen e seus dois maridos, se Cadinho e suas três esposas [“na riqueza e na pobreza. Mas essa pobreza vai ser só assim, né? Não vai piorar, vai?”, foi o texto de Verônica na hora da jura] ou se Adauto e sua chupetinha.

Gafes

* O tempo voou no último capítulo de Avenida Brasil – do jeito mais literal que o tempo pode voar. Cinco vezes o autor se valeu do artifício de avançar o tempo com “semanas depois”, “meses depois”, “dias depois”, “três anos depois” e “um ano depois”.

* O problema é que nem sempre os acontecimentos ficam de acordo com esses lapsos temporais. Entre a confissão de Carminha e a cena em que Lucinda sai da cadeia rolou um “semanas depois”. Isso quer dizer que Lucinda ficou presa por todas essas semanas, mesmo depois de confirmada a sua inocência?

* Outra gafe do último capítulo: quando Lucinda sai da Casa de Detenção, ele pergunta por Carminha e pede pra ser levada até ela. Um outro lugar, então. A próxima cena é de Lucinda visitando Carminha na prisão. Só que quando Carminha é libertada, ela sai pela mesmíssima porta de onde Lucinda havia saído anos antes. Até o enquadramento foi o mesmo.

* Mesmo assim, Amora Mautner está de parabéns pela maneira como manteve firme a direção na Avenida Brasil. Eu já havia me apaixonado por seu jeito de dirigir em Cordel Encantado e, afinal, estamos falando de novelas e é importante a gente lembrar que tem coisas que só acontecem, mesmo, em novelas.

Merchand

* Quanto custa vestir o elenco completo de uma novela justamente no capítulo em que está todo mundo ligado na tevê? A Lupo sabe. Ela foi a patrocinadora oficial do Divino Futebol Clube numa ação de marketing pra lá de estratégica.

* A Revista Exame publicou, há algum tempo, que o valor do investimento na Lupo em Avenida Brasil girava na casa dos dez milhões de reais. Contudo, Lilian Pacce twittou que o merchand da Lupo valeu o preço do shopping do Tufão: vinte milhões.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Hegemonia


* Brad Pitt acaba de quebrar uma hegemonia de 91 anos. Desde sua criação, em 1921, o perfume Chanel nº5 recebe pela primeira vez um rosto masculino a ilustrar sua campanha. Brad Pitt é a nova aposta da maison francesa pra vender sua emblemática fragrância.

* Eu sempre achei que havia uma predileção pelas atrizes francesas pra ocupar este posto, que já foi de Catherine Deneuve, Vanessa Paradis, Carole Bouquet e Audrey Tautou.

* No time das estrangeiras, lembro de Nicole Kidman e Marilyn Monroe que, aliás, foi a maior garota propaganda do perfume quando, em uma certa ocasião, disse que para dormir usava apenas duas gotas de Chanel nº5.

* Um coisa que sempre achei curiosa sobre este perfume é o fato de ter sido a primeira fragrância da maison de Coco Chanel e ter sido batizada com o número cinco – dizem que era o número da sorte de Mademoiselle Chanel.

Fusão


* De olho no mercado de luxo internacional, a Osklen acaba de anunciar sua fusão com o grupo Alpargatas. A transação foi tratada como uma “compra e venda”, mas tenho dúvidas sobre o termo, principalmente porque as informações que pipocaram na mídia são as mais diversas.

* Primeiro, porque apenas 30% da Osklen foi vendida para as Alpargatas, em duas parcelas. A primeira, dizem, foi no valor de R$ 67 milhões e meio. A próxima será daqui a quinze meses, quando o grupo Alpargatas poderá comprar mais 30%.

* O fundador da Osklen, Oskar Metsavaht, continua sendo o diretor criativo da marca e nem poderia ser diferente. Foi ele quem traduziu o lifestyle carioca e o imprimiu na identidade da Osklen. Um gênio!

* A única coisa que vai pegar mal neste casamento é que, no passado, a Osklen produziu suas sandálias com a Grendene, principal concorrente da esposa atual. Fora este detalhe, a marca carioca tem todos os requisitos pra conquistar o mundo e as Alpargatas já conhecem o caminho das pedras – percorreram uma a uma com Hawaianas.

Gigante

* Quem também estava no negócio da Osklen [e perdeu] era a gigante LVMH, a holding francesa que comanda o mercado de luxo no mundo. Suas letras são as iniciais de Louis Vuitton Möet Hennessy e seus produtos vão além das bolsas, champanhes e conhaques que dão nome ao grupo.

* Pra fazer justiça ao predicado gigante, a LVMH é a detentora de marcas as mais diversas: as vodcas Belvedere, Veuve Clicquot, relógios TAG Heuer, Fendi, Bvlgari, Céline, Kenzo, Marc Jacobs e ainda lojas como a La Samaritaine, em Paris, e a Sephora, no ramo da perfumaria, que acaba de aterrissar em terras tupiniquins, no shopping JK, em São Paulo.

Ibama


* A festa eletrônica que a Green Valley prepara para o mês de novembro nos domínios do parque Beto Carrero World, carinhosamente batizada de Dream Valley, pode ganhar ares de nightmare. Esta semana levantou-se a polêmica de que o som perturbaria os mais de mil animais que vivem no zoológico do parque.

* O assunto ainda deve render muito pano pra manga. De um lado, atrações internacionais como David Guetta, Paul Van Dyk e Armin Von Buuren confirmados pra comandar as pick ups. De outro, as aves que aproveitam a primavera pra se reproduzir e correm o risco de perder seus ninhos com a revoada que a música pode provocar, assim como o estresse para os animais maiores que estão confinados e não têm para onde fugir.

* No meio deste fogo cruzado, milhares de ingressos vendidos a peso de ouro: um combo masculino para o parque mais o camarote da festa custava ontem, no site do Ingresso Rápido, R$ 705. Com os dez por cento cobrados a título de taxa de conveniência [eu sempre acho isso uma grande inconveniência] o valor vai para R$ 775.

* A festa não foi cancelada, como alguns já anunciaram. E até onde eu sei ninguém pede licença ao Ibama pra promover uma festa, o que quer dizer que a Dream Valley deve, sim, acontecer. Mas se os danos ambientais forem constatados, a ressaca da festa vai ser implacável. No fundo, no fundo, a ressaca é sempre o preço de uma boa festa.

Salve Jorge


* O calvário de Carminha está fadado ao fim. A Globo já anuncia a sucessora de Avenida Brasil no horário das nove – justamente o horário que costuma hipnotizar os espectadores e que faz do Brasil não apenas o país do futebol, mas também das novelas.

* Salve Jorge tem estreia marcada para a próxima segunda-feira [22], o que quer dizer que a vingança de Nina acaba esta semana. A nova novela terá cenas ambientadas na Turquia, tanto na capital Istambul quanto na Capadócia, berço do mito São Jorge que batiza a trama, com seu céu de balões multicores. Outro núcleo toma o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pra lhe servir de base.

* A responsável por segurar a peteca da excelente audiência do horário é Gloria Perez, cuja obra é marcada por temas controversos, religiões e lugares exóticos. Barriga de Aluguel, De Corpo e Alma [tragicamente marcada pelo assassinato de sua filha Daniela Perez pelo colega de cena Guilherme de Pádua] e Explode Coração foram novelas que acompanhei na época.

* Depois tiveram as que eu não vi: O Clone, com o Marrocos de cenário, América, com os brasileiros clandestinos em Miami, e Caminho das Índias – que elevou Juliana Paes ao seleto time de protagonistas do horário nobre.

Elenco

* Quem ocupa o concorrido posto de mocinha na nova novela é Nanda Costa, e acredito que ela deva fazer bonito – achei ela excelente no seriado Clandestinos, que continua sendo o meu favorito em toda a história da Globo.

* Seu par será Rodrigo Lombardi, figurinha repetida em novelas da autora, assim como Murilo Rosa, Giovana Antonelli, Totia Meirelles [a nova vilã] e uma dupla que faz tempo que não vejo: Cristiana Oliveira e Lizandra Souto - ambas estavam no elenco da novela De Corpo e Alma quando a vida de Gloria Perez teve seu capítulo mais desconcertante.

* Quem também estará nesta nova novela fazendo sua estreia como atriz é Tammy Miranda, mais conhecida como a Tammy filha da Gretchen, no papel da escrivã que trabalha na delegacia da Giovana Antonelli. A propósito, Tammy está encantada com Giovana. E quem no lugar dela não estaria??

Trilha Sonora

* Para a abertura da nova novela, a Som Livre desenterrou uma música inédita de Cazuza – Sorte ou Azar – que foi descartada do primeiro disco do Barão Vermelho. Perguntei ao oratório Google se a canção era boa mas ele não soube me responder. Se foi descartada, tenho minhas desconfianças.

* O rei Roberto Carlos, amigo e fã de Gloria Perez, preparou duas canções inéditas pra compor a trilha da nova novela: Esse Cara Sou Eu, uma baladinha romântica que deve aparecer junto com o casal protagonista e um fake funk batizado de Furdúncio – mas pra ser funkeiro, não basta se reinventar. Roberto terá que nascer de novo.

domingo, 30 de setembro de 2012

Um Sofá Vazio


* Diz a regra que, na hora de escrever, o título nunca pode preceder o texto. No entanto, quando li a notícia da morte de Hebe Camargo, a primeira imagem que se instalou na minha mente foi a de um sofá vazio, vindo a batizar essas linhas antes mesmo delas serem escritas.

* A história da Hebe se confunde com a história da própria televisão. Se Hebe nos deixa ensinamentos, são sobre a alegria de viver e sobre como tirar uma lasquinha, mesmo na última idade. Ela era a rainha do selinho. Sua lista de bitocas roubadas põe inveja em homens e em mulheres.

* Hebe lutava contra um câncer há alguns anos. No sábado, perdeu a luta. Contrariando o ditado, foram-se os dedos, ficaram os anéis. Aliás, sua coleção de jóias deve ser motivo de exposições num futuro breve.

* A essas alturas, deve estar rindo deliberadamente ao lado de Nair Bello, enquanto uma legião de amigos e fãs choram a sua morte. As histórias permanecem. O sofá é que fica vazio.

Seis Lhamas


* Depois de três ou quatro copos, não consigo mais lembrar quem foi a autora da pérola, mas não pude deixar de achar graça com o comentário: que uma senhora que gosta de ser o assunto por conta de seus figurinos extravagantes estava na festa mais concorrida do fim de semana usando não um vestido, mas uma instalação.

* Frisson maior, só mesmo Lady Gaga, que me parece que voltou a trocar as sedas por carne na matéria-prima dos seus looks. A propósito, Gaga vem ao Brasil pra dois shows da turnê “Born This Way Ball” no próximo novembro. Rio e São Paulo, nos dias 09 e 11, respectivamente. A lista de exigências consegue ser mais polêmica do que a própria artista. Entre os itens que ocupavam trinta páginas, havia um no mínimo esquisito: seis lhamas. Sim, lhamas, sabe?

* Gaga foi eleita a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes no ano passado, desbancando Madonna, Hillary e Dilma. Semana passada, durante um show em Amsterdã, acendeu um baseado e disse que iria conversar com Obama sobre a questão da legalização.

Guerra dos Sexos


* A Globo vem apostando alto nos remakes, não apenas no seu novo horário de novelas – o das onze da noite – onde já pudemos rever O Astro e agora Gabriela, como também no horário das sete, que costuma ser o calcanhar de Aquiles da emissora. Depois de Ti Ti Ti, é a vez de Guerra dos Sexos voltar em versão revista e atualizada.

* Da versão original, mantem-se o tema da abertura que foi regravado pela turma do The Fevers, o autor Silvio de Abreu, o diretor Jorge Fernando e a criada Olívia, a empregada da mansão que foi vivida por Marilu Bueno há trinta anos e volta a encenar a personagem, como uma daquelas heranças que só as melhores famílias conseguem deixar para as novas gerações.

* Paulo Autran e Fernanda Montenegro trabalharam juntos pela primeira vez nesta novela. Já posso ouvir a voz do Faustão falando desses “monstros sagrados da televisão brasileira” – que Deus o tenha em bom lugar e que a conserve conosco por muitos papéis. A dobradinha ganha vida nova com Tony Ramos e Irene Ravache.

* A célebre cena do café da manhã vai ao ar no nono capítulo – acabo de assistir a original no Youtube e fico imaginando Tony Ramos tirando geleia daquele casaco de pêlos que ele usa [por baixo] em todos os seus figurinos. A nova novela começa amanhã, junto com o mês de outubro. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Festival de Veneza


* O festival de cinema de Veneza, um dos mais tridicionais da Europa – junto com Cannes e Berlim, aconteceu na primeira semana de setembro. Os dois prêmios mais importantes do festival são o Leão de Ouro e o Leão de Prata, para o melhor filme e o melhor  diretor, respectivamente.

* Quem levou o Leão de Ouro foi o filme Pietá, de um cineasta sul-coreano, que conta a história do sanguinário Kang-do, um sujeito que trabalha para um agiota e deixa deficientes os clientes incapazes de pagar suas dívidas.

* O Leão de Prata acabou nas mãos de Paul Thomas Anderson, por seu trabalho no filme The Master, inspirado no criador da Cientologia – a contraditória religião que tem Tom Cruise como fiel. O cineasta já havia se consagrado em outros festivais: ganhou o Urso de Ouro em Berlim por Magnólia [onde trabalhou com o próprio Tom Cruise] e o Urso de Prata por Sangue Negro, além de indicações ao Oscar.

Sem Mim


* A trupe mineira do Grupo Corpo desembarca este fim de semana no palco do Teatro Guaíra [Curitiba] para apresentar Sem Mim – e quem gosta deve aproveitar, porque não creio que eles cheguem ainda mais perto dos catarinenses nesta turnê.

* A inspiração vem do mar de Vigo, que leva e traz de volta o amado, o amigo. A trilha sonora é urdida a quatro mãos pelo viguês Carlos Núñez e pelo brasileiro Zé Miguel Wisnik a partir do conjunto de peças medievais do cancioneiro galego-português que atravessou o tempo com as respectivas partituras da época: o célebre “Ciclo do Mar de Vigo”, de Martín Codax.

* O trabalho da família Pederneiras, sobretudo do meu xará Rodrigo, coreógrafo do grupo, é reconhecido e aplaudido por plateias do mundo inteiro. Isso ninguém me contou. Eu mesmo vi o grupo ser ovacionado com intermináveis minutos de aplausos ao fim da apresentação de Breu num teatro da Avenue Montaigne, em Paris. Um orgulho!

Parque Industrial


* 1933 foi o ano sabático de Patrícia Galvão, a famosa Pagu da canção de Rita Lee. Ela havia sido presa ao participar da organização de uma greve de estivadores do porto de Santos e quando foi solta, em 1933, deixou no Brasil marido e filho – Oswald havia se separado de Tarsila pra ficar com ela – e partiu para uma viagem pelo mundo.

* Eu não sei se “sabático” é o termo mais apropriado pra este ano de descobertas, sem marido nem filho nem grades ao redor, já que ela não ficou exatamente sem trabalhar. Foi neste ano que ela publicou o romance Parque Industrial, que agora serve de inspiração e de título para uma exposição em São Paulo que discute a relação entre arte e consumo.

* A exposição Parque Industrial é um dos eventos satélites da trigésima Bienal de São Paulo e acontece na Galeria Luisa Strina, que convidou Julieta González para o posto de curadora.

* Uma das obras mais emblemáticas é composta de uma edição do livro O Capital, de Karl Marx, dentro de um saco monogramado Louis Vuitton, um dos suprassumos do desejo quando o assunto é consumo.

* A relação estabelecida pelo cubano Carlos Garaicoa é pertinente: ao colocar O Capital dentro da bolsa francesa, ele nos diz que os donos do capital, no caso a Vuitton, compreenderam perfeitamente os ensinamentos de Marx sobre o fetiche da mercadoria, a mais-valia e a exploração do trabalho pelo capital.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Rock of Ages


* Rock of Ages é um musical que foi escrito pra homenagear algumas bandas de rock da década de oitenta, especialmente aquelas que foram enquadradas no subgênero glam metal e fizeram parte da cena da Sunset Strip, em Los Angeles, naquela década.

* Um parêntese: enquanto isso tudo acontecia, eu estava ouvindo os discos do Trem da Alegria, do Balão Mágico e aguardando o próximo lançamento da Xuxa. Ou seja, qualquer coisa deste repertório eu só vim conhecer muito depois. Ainda hoje, quando leio o nome das bandas que fizeram parte deste movimento, me sinto lendo um alfabeto desconhecido. Não é minha praia.

* Falo isso porque o musical acaba de ganhar sua versão para o cinema, embalado no sucesso que tem feito em diversos palcos do planeta – está em cartaz na Broadway, no West End londrino e uma montagem acabou de ser anunciada para o fim do ano em Las Vegas, no hotel Venetian.

* É a história clichê de uma garota que sai de Oklahoma pra viver o sonho de ser cantora em Hollywood, apaixona-se pelo primeiro garoto que lhe dá atenção e ele consegue um trabalho de garçonete pra ela no lendário Bourbon Club, a casa que serve de cenário para os grandes shows.

elenco da versão cinematográfica do musical
* A mocinha da história é Julianne Hough, que fez sua estreia no cinema como uma das crianças de Hogwarts no primeiro filme da saga Harry Potter. Tão coadjuvante que sua personagem nem tinha nome. Aí cresceu, fez Burlesque com Cher e Aguilera eesteve recentementeno remake de Footloose.

* Seu par é Diego Boneta, que está super adequado para o papel de vítima da indústria fonográfica: o menino que ama rock’n’roll mas, em nome da fama, aceita fazer parte de uma Boyz Band. Na vida real, Diego é mexicano e apareceu num desses programas de calouros pra crianças – um Raul Gil do México. Se deu bem e entrou para o Rebelde.

* Catherine Zeta Jones, magérrima, faz o papel da moralista com telhado de vidro. Ela é casada com o prefeito da cidade e encabeça um movimento pra exterminar o rock’n’roll, essa doença que desemcaminha a juventude. Seus dotes musicais ficam um pouco encobertos pela carolice da personagem e os pavorosos figurinos da época.

* Tom Cruise é que foi a minha grande surpresa. Nunca havia trabalhado no gênero, tomou aulas de canto e arrebentou no papel de estrela do rock. Seu personagem, Stacee Jaxx, é um astro que vive os altos e baixos da carreira, super sedutor, mais dedicado aos prazeres da carne do que à disciplina que a agenda requer.

* E se você tivesse que escalar um nome pra viver o agente Paul Gill [o nome me parece uma homenagem ao guitarrista Paul Gilbert], de quem lembraria imediatamente? De Paul Giamatti, é claro, pelo flerte entre ficção e realidade nos nomes. O elenco conta ainda com Alec Baldwin no papel de dono do bar.

Don’t Stop Believing

* Dentre os números musicais, achei muito legal a fusão criada entre More Than Words [Extreme] e Heaven [Warrant], com um arranjo de cordas sobre aquela batida que imortalizou More Than Words e um crescente que desemboca num rock mais pesado.

* Mas certamente o número final é o grande momento do musical, com a canção Don’t Stop Believing, da banda americana Jorney, lançada em 1981. Essa música tem poder. Faz a gente querer cantar junto, cantar alto e não parar de acreditar, a pedido do título.

* Há poucos anos, o seriado Glee colocou a canção de volta às paradas de sucesso e a versão para o cinema do musical Rock of Ages deve lhe prestar a mesma homenagem. Um hino, com certeza!

Sunset Boulevard

* O Bourbon Room, bar onde se passa uma boa parte do filme Rock of Ages, fica na Sunset Strip – que nada mais é do que o pedaço emblemático da Sunset Boulevard.Acho que já disse uma vez, mas a Sunset Boulevard foi uma das maiores decepções da minha vida. Aquele tipo de lugar que a gente idealiza de um jeito nos nossos sonhos e que se revela o oposto in loco.

* Nos meus devaneios, a Sunset Boulevard era uma larga avenida com grandes canteiros e palmeiras balançando com o vento da Califórnia, a linha do horizonte à frente com o mar ali do lado, bicicletas, patins e gente sorrindo nas largas calçadas. Na realidade, é uma rua sem a menor graça, cheia de curvas, completamente urbana, barulhenta.

* Pior que isso, só o famoso letreiro de Hollywood, um dos cartões-postais de Los Angeles, que só se vê ao longe... e sempre bem de longe. Esse fetiche que a gente tem de escalar suas letras só se realiza no cinema, como em Rock of Ages.

* Na verdade, aquele lugar é uma propriedade privada e nem as locações de filmes acontecem lá. Neste caso, por exemplo, as cenas foram gravadas em um lixão de Pampona Beach, na Flórida, e depois devidamente maquiados com as luzes da cidade lá debaixo - o que Hollywood faz de melhor.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Mágico de Oz

* Tem lugares que conseguem nos evocar uma lista de lembranças felizes. O teatro João Caetano, na praça Tiradentes, bem no centrão do Rio de Janeiro, é um destes lugares. Tudo o que assisti neste teatro foi direto para a parede da memória.

* Não sei se consigo lembrar da minha primeira vez, nem da ordem cronológica, mas foi lá que assisti, por exemplo, a Ópera do Malandro e também o musical Gota D´Agua, ambos do Chico Buarque. Também foi lá que assisti, na estreia, o espetáculo Nó, da Cia Débora Colker, com Caroline Fischer na poltrona ao lado. Lembro que neste dia ela usou a expressão "xixi profilático", que eu nunca havia ouvido e fui aprender lá, no saguão do João Caetano.

* Assisti ainda no palco do João Caetano o musical Sete, escrito por Ed Motta e dirigido pela dupla Charles Moeller e Claudio Botelho - a mesma dupla que me fez voltar neste fim de semana ao João Caetano pra assistir O Mágico de Oz.

* Eu não fui conferir os números, o que quer dizer que posso estar sendo leviano no que vou falar, mas acredito que O Mágico de Oz tenha sido uma das peças mais montadas e mais assistidas da história do teatro mundial. Eu mesmo já assisti diversas vezes, e aqui quero confessar que acho a trilha sonora chata, muito chata, mas muuuito chata, exceto Over the Rainbow, que é linda e nem sei como pode fazer parte do mesmo conjunto. A grande maioria das músicas desta peça me fazem pensar nos sete anões voltando para casa.

* A história d´O Mágico de Oz eu creio que todos conheçam, o filme com Judy Garland é tão antigo quanto o gênero musical no cinema. Uma espécie de Alice no País das Maravilhas, uma garota que sonha com um mundo imaginário e, no sonho, quer voltar pra casa. Dorothy carrega um cachorro, o Totó. Alice um gato, que não a acompanha no espaço do sonho.

* O elenco é ótimo: Malu Rodrigues [a Bia de Tapas & Beijos] faz a mocinha da história, Pierre Baitelli - que já foi seu par no Despertar da Primavera - faz o espantalho que procura por um cérebro, Nicola Lama faz o Homem de Lata que quer um coração e Lucio Mauro Filho é o Leão Covarde em busca de coragem. Miele faz o papel do mágico. Aliás, esta é uma das poucas peças - a única que eu lembro, pra ser sincero - onde o personagem que dá título à peça não é protagonista. Pelo contrário, Miele entra em cena apenas duas ou três vezes, e se sai bem.

* No entanto, a grande surpresa que tive foi com a atriz Cristiana Pompeo, que deixou o seu papel de árvore na peça pra substituir Maria Clara Gueiros no papel de Bruxa Má do Oeste. Maria Clara, não sei por que razão, precisou ser substituída, e fez aquilo que nenhum ator deve fazer: abrir espaço para que outro mostre que pode fazer melhor do que ele. Eu ainda sou da opinião que não se falta nem em ensaio, quanto menos no dia da apresentação. Resumo da Ópera, Cristiana arrebentou.

* Tem ainda um outro rapaz no elenco que atende pela graça de Kostyantyn Biriuk, não fala uma palavra em português - pelo menos não em cena - e ganhou um papel de destaque que nem existe nas outras montagens. O rapaz fala apenas com seu corpo e os diretores inventaram um papel especialmente pra ele. Isso é o que eu chamo de ver alguém com bons olhos.

domingo, 2 de setembro de 2012

A Partilha - Revival



* Eu estava muito curioso sobre o retorno do quarteto que fez a plateia rir e chorar há vinte anos com a peça A Partilha. No início dos anos noventa, Natalia do Vale, Suzana Vieira, Arlete Salles e Thereza Piffer subiam ao placo do Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, para estrear aquele sucesso que se repetiria pelos próximos seis anos em doze países pra depois ainda virar uma das melhores comédias do cinema nacional e agora ter seu revival na cena carioca.

* A peça foi escrita por Miguel Falabella depois de uma ideia que a atriz Natalia do Vale deu a ele, quando os dois atuavam como irmãos na novela O Outro. Arlete também estava neste elenco. 

* O que eu não consegui descobrir foi o motivo de nenhuma das quatro atrizes da peça terem sido escaladas para o filme, o que gera uma comparação, e aqui também faço uma observação que é maior do que uma comparação: pra mim não existe elenco mais bem escalado do que o quarteto que fez o filme. As quatro da peça são boas. As quatro do filme arrebentam a boca do balão.

* Outra pergunta que não consegui responder foi sobre a substituição de Natalia do Vale por Patricia Travassos, já que a primeira, além de ter bem mais o perfil da personagem Selma, é também a mentora da ideia.

* Voltando à minha curiosidade sobre a peça A Partilha, ela nasceu principalmente pelas repetidas vezes que assisti ao filme. Quando eu via uma cena difícil de imaginar no espaço de um teatro, sempre ficava me perguntando como teria sido isso no original.

* Todas as perguntas foram satisfeitas agora que, com organização e sorte - sempre o fator sorte! - eu me sentei na primeira fila do teatro Casagrande pra assistir o retorno d´A Partilha. Foi ali que ri e chorei, como muitos, com essa história deliciosa que retrata a relação destas quatro irmãs.

* O texto do filme não é fiel ao texto da peça, e acho que nunca é quando se adapta uma peça de teatro para a tela do cinema, mesmo porque o cinema oferece muito mais possibilidades. Contudo, uma grande parte do texto está de acordo. Ipsis literis.

* Outra diferença relevante é que no filme, existem pelo menos meia dúzia de personagens a mais. Na peça, estes personagens são apenas citados nas histórias contadas pelo quarteto. E os espaços, que no filme são variados, no teatro se limitam à casa mortuária, na primeira cena, e no apartamento da mãe em todas as demais.

* Teve inclusive uma saída muito interessante na transformação do primeiro cenário no segundo: o caixão da mãe escondia o sofá da sala do apartamento. O público achou graça.

* Quem for passar pelo Rio neste mês de setembro, recomendo que inclua A Partilha no programa. É bem possível que você vá rir e chorar. E descobrir que toda família, sobretudo as grandes, possui a sua Selma, a sua Regina, a sua Maria Lúcia e a sua Laurinha.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

360


* Quando o matemático Edward Lorenz teorizou sobre o “efeito borboleta” nos anos sessenta, não creio que ele pudesse imaginar os préstimos que estaria oferecendo ao cinema. Essa ideia de que o bater de asas de uma borboleta em Toquio pode provocar um furacão em Nova iorque vem inspirando uma excelente safra de filmes.

* O cineasta espanhol Alejandro Iñárritu [o sobrenome mais esquisito e impronunciável do cinema] é um dos maiores entusiastas do tema, com uma trilogia sobre o assunto que começou com Amores Brutos, seguiu com 21 Gramas e findou com o excelente Babel.

* Houve também um filme que faz bastante sucesso na época que se valeu da própria expressão Efeito Borboleta pra lhe servir de título, com o jovenzinho Ashton Kutcher, o que lhe rendeu projeção no métieur e, possivelmente, a atenção de Demi Moore, com quem se casou no ano seguinte.

* É o lado aleatório da vida, como a forma de uma nuvem no céu, como o destino daquela pena da primeira cena do filme Forrest Gump, com aquela música linda vindo pelo ar. Se você já esqueceu, é hora de rever.

* A história da teoria do caos e do efeito borboleta servem de prólogo para o novo filme do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, 360, escolhido para ser o filme de abertura do Festival de Gramado deste ano.

* 360 tem sido um fracasso de público nos Estados Unidos, fato que me deixa com uma ponta de satisfação, porque é maravilhoso saber que um diretor brasileiro está fazendo história no cinema com filmes que passam ao largo dos super-heróis campeões de bilheteria.

* O título do filme, a propósito, não é citado nenhuma vez no roteiro. Não existe o número 360 em diálogo algum, mas é totalmente explicativo quando um ciclo se fecha, ou quando o efeito borboleta é tão completo que desencadeia uma série de acontecimentos até voltar à própria borboleta, depois de uma volta ao mundo – outra vez 360.

* Usando esta estratégia como pano de fundo, o filme trata sobre dilemas morais. Com que cara voltar pra casa depois de trair? Até quando aguentar um chefe que insiste em te destratar? Que caminho tomar diante de uma bifurcação?

* Como a prostituta do início do filme no ranking dos seus clientes, 360 é – sim! – um filme cinco estrelas, acima da média, com um elenco incrível que inclui estrelas do quilate de Anthony Hopkins, Rachel Weisz e Jude Law, além dos brasileiros Juliano Cazarré [o Adauto de Avenida Brasil] e Maria Flor. Veja bem: não é história do cinema brasileiro, mas brasileiros fazendo história no cinema.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

As Cidades de Chico


* O que eu vejo de mais interessante – e que me faz gostar ainda mais – na obra do Chico Buarque é a quantidade de enigmas que se escondem nas entrelinhas das suas canções. A riqueza da sua poesia é tão grande que levo anos para consumi-la.

* Digo isso porque acabo de desvendar a fonte de inspiração onde Chico foi beber para compor a canção Sonhos, Sonhos São – que faz parte do álbum As Cidades, lançado há quase quinze anos. Veja bem: quinze anos foi o tempo que eu precisei pra me dar conta que o título da música está no texto da peça A Vida É Sonho, do dramaturgo espanhol Calderón de la Barca.

Iracema e América

* Esse disco, aliás, é um tesouro que já esteve no balaio das Americanas por quaisquer dez reais – ainda há quem atire pérolas aos porcos. Iracema Voou, por exemplo, foi lançada nesse disco e eu me apaixonei pela música imediatamente, tanto que a incluí no repertório do musical Quadrilha.

* Só depois da milésima vez que cantei o verso “Iracema voou para a América” foi que percebi: Iracema é um anagrama da palavra América. Pra quem não lembra o que são anagramas, vou poupar o Google: embaralhe as letras e forme uma nova palavra.

Sonhos, Sonhos São

* A propósito da minha descoberta, vale um parêntese: tudo parece muito óbvio depois que alguém entrega a coisa mastigada, como a solução de uma equação de segundo grau. A graça, no entanto, é ficar ruminando até ver a luz se acender com a resposta certa.

* No caso  desta música a que me refiro – e é bem provável que pouquíssimos a tenham ouvido, já que nunca foi tema de novela nem tocou nas FMs, fica então restrita ao público que consome Chico na fonte – a solução da charada praticamente caiu no meu colo enquanto eu assistia o filme nacional Irma Vap [que também tirei do balaio das Americanas].

* Na primeira cena do filme, uma cena de funeral, Marieta Severo faz uma participação afetiva recitando alguns versos da peça A Vida É Sonho. “O que é a vida? Um frenesi.O que é a vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção. E o maior bem é pequeno, porque toda a vida é um sonho. E sonhos, sonhos são”.

* Por ironia do destino, quem me deu a resposta foi Marieta, que durante uma vida foi esposa do compositor e inspirou a canção Beatriz, personagem da Divina Comédia, mas que lida em inglês tem a mesma sonoridade de “be actress”, ser atriz – ofício que Marieta cumpre como poucas neste país.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Que Esperar Quando Você Está Esperando



* Tenho uma amiga que tem horror a grávida. É provável que um dia ela vá engravidar e pedir perdão pelos seus pecados, mas enquanto isso não acontece, se diverte contando as afetações das amigas que tiveram seus nove meses de embaraço – e pelo menos outros nove conversando sobre sintomas, fraldas, rachaduras no bico do peito e as peripécias do bebê, tudo em linguagem tatibitate, óbvio.

* Não pude escapar de lembrá-la enquanto assistia à comédia O Que Esperar Quando Você Está Esperando, a adaptação para o cinema de um livro para gestantes. Nem preciso dizer que este livro não faz parte do meu repertório, mas tenho uma teoria sobre essa transformação do livro em filme: acredito que alguém não grávido leu aquilo e enxergou ali uma comédia, criando categorias com as futuras mamães.

Categorias

* A grávida mais caricata é a personagem de Elizabeth Banks, dona de uma loja de artigos pra bebê que fez tratamento para engravidar. Quando realiza seu sonho dourado, sai dando palestras sobre o assunto.

* No outro lado da corda está a segunda mulher do seu sogro, que engravida no mesmo período e faz a linha grávida-exceção: vida normal durante toda a gestação [de gêmeos], só engorda na barriga e, na hora do parto, dá um espirro e lança à luz o primeiro.

* Tem também a menina que sai com o garoto pela primeira vez e sai deste encontro grávida, vindo a ter um aborto natural algumas semanas depois, e ainda a personagem de Jennifer Lopez, uma fotógrafa que está na fila da adoção e cujo marido, vivido por Rodrigo Santoro, não se sente preparado para ser pai.

Histórias Cruzadas

* O filme O Que Esperar Quando Você Está Esperando é daquele tipo que tem uma porção de celebridades no elenco e várias histórias paralelas que vão se entrecruzar lá na frente, na linha de Simplesmente Amor, Idas e Vindas do Amor e Noite de Ano Novo.

* O que normalmente acontece neste filmes com muitas estrelas pra pouco céu e que acaba faltando tempo para os personagens ganharem densidade, o que não aconteceu dessa vez – um ponto positivo do filme.

* Por outro lado, a grande chance de ter um final apoteótico é jogada fora na forma como as histórias se cruzam. Achei que faltou argumento pra amarrar um enredo no outro. Tudo muito leviano.

* De qualquer forma, o filme cumpre sua função de entretenimento. A emoção eu garanto para quem estiver grávida. Todos os outros irão rir um bocado.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Maçaneta numa Mão, Revólver na Outra


* A novela das onze terminou tensa na última sexta-feira, com o coronel Jesuíno segurando a maçaneta com uma mão e o revólver com a outra, na iminência de entrar no quarto onde sua esposa dona Sinhazinha se enroscava nos lençóis com doutor Osmundo, seu dentista amante.

* O desfecho da cena todo mundo já conhece – a menos que o autor da adaptação Walcyr Carrasco peça uma licença poética ao espírito de Jorge Amado e faça o corno atirar nos próprios chifres. Na obra do baiano, Jesuíno despacha a bela Sinhazinha e o sedutor Osmundo com dois tiros certeiros em cada um.

* Hoje saberemos, já que segunda-feira não é dia de Gabriela – e tenho certeza que isso deixa a tela menos quente, com o perdão do trocadilho, mas aumenta nossa expectativa, afinal, dizem que o melhor da festa é sempre esperar por ela.

Certo e Errado

* O romance de dona Sinhazinha com Osmundo fez uma nação inteira rever seus conceitos sobre o que é certo e o que é errado em um casamento. Quem acompanhou a novela e não torceu pela traição, que atire a primeira pedra e engrosse o coro provinciano de dona Quinquina, dona Florzinha e dona Dorotéia – Jesus, Maria, José!

* A própria Sinhazinha inventou penitências pra não ter mais que deitar com seu marido porque achava errado trair o seu amante – e verdadeiro amor.

Lapso Temporal

* A adaptação de Walcyr Carrasco tem algumas controvérsias de tempo com o texto original de Jorge Amado. No livro, dona Sinhazinha e doutor Osmundo são assassinados no mesmo dia em que Nacib perde sua velha cozinheira, ou seja, antes de Gabriela aparecer na história. Abram aspas:

* Essa história de amor – por curiosa coincidência, como diria dona Arminda – começou no mesmo dia claro, de sol primaveril em que o fazendeiro Jesuíno Mendonça matou, a tiros de revólver, dona Sinhazinha Guedes Mendonça, sua esposa, expoente da sociedade local, morena mais para gorda, muito dada às festas de igreja, e o dr Osmundo Pimentel, cirurgião-dentista chegado a Ilhéus há poucos meses, moço elegante, tirado a poeta.Pois, naquela manhã, antes da tragédia abalar a cidade, finalmente a velha Filomena cumprira sua antiga ameaça, abandonara a cozinha do árabe Nacib e patira, pelo trem das oito, para Água Preta, onde prosperava seu filho. E fechem as aspas.

Mais para Gorda

* Reparem também que no texto original Sinhazinha é descrita como “morena mais para gorda”, o que não tem nada a ver com a personagem de Maitê Proença – e que não é problema algum, mesmo porque este foi um dos grandes personagens da carreira de Maitê.

* A propósito, dá pra contar nos dedos quantas atrizes acima dos cinquenta [anos, não quilos] estão aptas às reveladoras cenas de amor com a mesma competência.

Descobertas


* Assim como eu acredito que a solução de um problema sempre cria um novo problema – a gente cobre um buraco e, para isso, deixa outro aberto – assim também creio que uma descoberta leva à outra. Digo isso porque acabou de acontecer.

* Em 2005, procurando me encontrar, prestei a prova da Escola de Arte Dramática da USP, concorrendo a uma vaga na escola de teatro mais cobiçada do país. Não fui selecionado, mas guardo algumas lembranças – e isso inclui o texto d’A Tempestade, a última peça escrita por Shakespeare e que fazia parte do conteúdo a ser estudado para a prova.

* Apesar de ser um texto relativamente curto, é um texto intenso e de difícil compreensão, até mesmo pela idade e por todas aquelas flexões verbais que já caíram em desuso, tanto no original inglês quanto na tradução portuguesa.

A Tempestade

* Na última semana, assistindo à cerimônia de abertura das Olimpíadas, eis que entra em cena Keneth Branagh, ator inglês especialista em Shakespeare, recitando alguns versos da peça A Tempestade. É claro que eu não reconheci de imediato, principalmente porque estava na língua original, mas o comentarista do evento deu o crédito e disse que o poema era uma ode à Inglaterra.

* Acendi minha vela ao oráculo Google mas não chegueinas ferramentas corretas pra encontrar a parte do texto recitada na cerimônia. Então vasculhei minhas prateleiras atrás daquele fino livro [minha edição é de bolso] pra reler e tentar decifrar qual era o pedaço escolhido para a abertura dos jogos olímpicos.

Ilha dos Sonhos

* Achei o texto: “Não tenhais medo. A ilha é cheia de ruídos, sons e doces brisas que dão prazer e não fazem mal. Tem vezes em que mil instrumentos metálicos ressoam em meus ouvidos. Outras vezes há vozes que, mesmo que tenha eu acordado de um longo e profundo sono, fazem-me dormir de novo. E então, em sonhos, as nuvens parecem abrir-se, exibindo riquezas que me vão cair no colo, de maneira que, quando acordo, caio no choro, porque meu desejo é voltar a sonhar”.

* Discordo do comentarista quando diz que é uma ode à Inglaterra. Apesar de caber no contexto histórico das olimpíadas, afinal Shakespeare não pode ser negligenciado quando se conta a história de Londres, a ilha em questão é uma ilha deserta fictícia.

* Durante minha pesquisa veio a história de que uma descoberta leva a outra. Sem querer, esbarrei em um filme sobre a peça, lançado pela Miramax, com ninguém menos que Helen Mirren – uma das grandes atrizes de teatro da Inglaterra e vencedora do Oscar por A Rainha – encabeçando o elenco.

Chocolates Godiva

* O filme A Tempestade não repercutiu nos cinemas das bandas de cá – ou estava no mundo da lua quando isso aconteceu, mas já entrou na minha lista de coisas pra pedir pra Claudia Bia procurar, ela que acha tudo o que eu preciso.

* E por falar na Bia, esta outra descoberta levou a mais uma descoberta. Há alguns anos, nas minhas andanças por aí, eu e minha escudeira Izabela Sandrini fomos trabalhar numa festa em Londres oferecida por um ator chamado Tom Conti servindo morangos banhados no chocolate Godiva.

* Eu não o conhecia de filme nenhum, mas quando contei o episódio pra Claudia ela me deu a filmografia completa – o que me deixou feliz, porque agora tinha trabalhado na festa de um ator nem tão desconhecido assim. Por ironia, acabo de ler o nome dele no elenco deste filme. Faz o papel do Conselheiro Gonzalo.