* A novela das onze terminou tensa na última sexta-feira, com o coronel
Jesuíno segurando a maçaneta com uma mão e o revólver com a outra, na iminência
de entrar no quarto onde sua esposa dona Sinhazinha se enroscava nos lençóis
com doutor Osmundo, seu dentista amante.
* O desfecho da cena todo mundo já conhece – a menos que o autor da
adaptação Walcyr Carrasco peça uma licença poética ao espírito de Jorge Amado e
faça o corno atirar nos próprios chifres. Na obra do baiano, Jesuíno despacha a
bela Sinhazinha e o sedutor Osmundo com dois tiros certeiros em cada um.
* Hoje saberemos, já que segunda-feira não é dia de Gabriela – e tenho
certeza que isso deixa a tela menos quente, com o perdão do trocadilho, mas
aumenta nossa expectativa, afinal, dizem que o melhor da festa é sempre esperar
por ela.
Certo e Errado
* O romance de dona Sinhazinha com Osmundo fez uma nação inteira rever
seus conceitos sobre o que é certo e o que é errado em um casamento. Quem
acompanhou a novela e não torceu pela traição, que atire a primeira pedra e
engrosse o coro provinciano de dona Quinquina, dona Florzinha e dona Dorotéia –
Jesus, Maria, José!
* A própria Sinhazinha inventou penitências pra não ter mais que deitar
com seu marido porque achava errado trair o seu amante – e verdadeiro amor.
Lapso Temporal
* A adaptação de Walcyr Carrasco tem algumas controvérsias de tempo com
o texto original de Jorge Amado. No livro, dona Sinhazinha e doutor Osmundo são
assassinados no mesmo dia em que Nacib perde sua velha cozinheira, ou seja,
antes de Gabriela aparecer na história. Abram aspas:
* Essa história de amor – por curiosa coincidência, como diria dona
Arminda – começou no mesmo dia claro, de sol primaveril em que o fazendeiro
Jesuíno Mendonça matou, a tiros de revólver, dona Sinhazinha Guedes Mendonça,
sua esposa, expoente da sociedade local, morena mais para gorda, muito dada às
festas de igreja, e o dr Osmundo Pimentel, cirurgião-dentista chegado a Ilhéus
há poucos meses, moço elegante, tirado a poeta.Pois, naquela manhã, antes da
tragédia abalar a cidade, finalmente a velha Filomena cumprira sua antiga
ameaça, abandonara a cozinha do árabe Nacib e patira, pelo trem das oito, para
Água Preta, onde prosperava seu filho. E fechem as aspas.
Mais para Gorda
* Reparem também que no texto original Sinhazinha é descrita como
“morena mais para gorda”, o que não tem nada a ver com a personagem de Maitê
Proença – e que não é problema algum, mesmo porque este foi um dos grandes
personagens da carreira de Maitê.
* A propósito, dá pra contar nos dedos quantas atrizes acima dos
cinquenta [anos, não quilos] estão aptas às reveladoras cenas de amor com a
mesma competência.
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