* Assim como eu acredito que a solução de um problema sempre cria um
novo problema – a gente cobre um buraco e, para isso, deixa outro aberto –
assim também creio que uma descoberta leva à outra. Digo isso porque acabou de
acontecer.
* Em 2005, procurando me encontrar, prestei a prova da Escola de Arte
Dramática da USP, concorrendo a uma vaga na escola de teatro mais cobiçada do
país. Não fui selecionado, mas guardo algumas lembranças – e isso inclui o
texto d’A Tempestade, a última peça escrita por Shakespeare e que fazia parte
do conteúdo a ser estudado para a prova.
* Apesar de ser um texto relativamente curto, é um texto intenso e de difícil
compreensão, até mesmo pela idade e por todas aquelas flexões verbais que já
caíram em desuso, tanto no original inglês quanto na tradução portuguesa.
A Tempestade
* Na última semana, assistindo à cerimônia de abertura das Olimpíadas,
eis que entra em cena Keneth Branagh, ator inglês especialista em Shakespeare,
recitando alguns versos da peça A Tempestade. É claro que eu não reconheci de
imediato, principalmente porque estava na língua original, mas o comentarista
do evento deu o crédito e disse que o poema era uma ode à Inglaterra.
* Acendi minha vela ao oráculo Google mas não chegueinas ferramentas
corretas pra encontrar a parte do texto recitada na cerimônia. Então vasculhei
minhas prateleiras atrás daquele fino livro [minha edição é de bolso] pra reler
e tentar decifrar qual era o pedaço escolhido para a abertura dos jogos
olímpicos.
Ilha dos Sonhos
* Achei o texto: “Não tenhais medo. A ilha é cheia de ruídos, sons e
doces brisas que dão prazer e não fazem mal. Tem vezes em que mil instrumentos
metálicos ressoam em meus ouvidos. Outras vezes há vozes que, mesmo que tenha
eu acordado de um longo e profundo sono, fazem-me dormir de novo. E então, em
sonhos, as nuvens parecem abrir-se, exibindo riquezas que me vão cair no colo,
de maneira que, quando acordo, caio no choro, porque meu desejo é voltar a
sonhar”.
* Discordo do comentarista quando diz que é uma ode à Inglaterra. Apesar
de caber no contexto histórico das olimpíadas, afinal Shakespeare não pode ser
negligenciado quando se conta a história de Londres, a ilha em questão é uma
ilha deserta fictícia.
* Durante minha pesquisa veio a história de que uma descoberta leva a
outra. Sem querer, esbarrei em um filme sobre a peça, lançado pela Miramax, com
ninguém menos que Helen Mirren – uma das grandes atrizes de teatro da
Inglaterra e vencedora do Oscar por A Rainha – encabeçando o elenco.
Chocolates Godiva
* O filme A Tempestade não repercutiu nos cinemas das bandas de cá – ou
estava no mundo da lua quando isso aconteceu, mas já entrou na minha lista de
coisas pra pedir pra Claudia Bia procurar, ela que acha tudo o que eu preciso.
* E por falar na Bia, esta outra descoberta levou a mais uma descoberta.
Há alguns anos, nas minhas andanças por aí, eu e minha escudeira Izabela
Sandrini fomos trabalhar numa festa em Londres oferecida por um ator chamado
Tom Conti servindo morangos banhados no chocolate Godiva.
* Eu não o conhecia de filme nenhum, mas quando contei o episódio pra
Claudia ela me deu a filmografia completa – o que me deixou feliz, porque agora
tinha trabalhado na festa de um ator nem tão desconhecido assim. Por ironia,
acabo de ler o nome dele no elenco deste filme. Faz o papel do Conselheiro
Gonzalo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário