domingo, 30 de setembro de 2012

Um Sofá Vazio


* Diz a regra que, na hora de escrever, o título nunca pode preceder o texto. No entanto, quando li a notícia da morte de Hebe Camargo, a primeira imagem que se instalou na minha mente foi a de um sofá vazio, vindo a batizar essas linhas antes mesmo delas serem escritas.

* A história da Hebe se confunde com a história da própria televisão. Se Hebe nos deixa ensinamentos, são sobre a alegria de viver e sobre como tirar uma lasquinha, mesmo na última idade. Ela era a rainha do selinho. Sua lista de bitocas roubadas põe inveja em homens e em mulheres.

* Hebe lutava contra um câncer há alguns anos. No sábado, perdeu a luta. Contrariando o ditado, foram-se os dedos, ficaram os anéis. Aliás, sua coleção de jóias deve ser motivo de exposições num futuro breve.

* A essas alturas, deve estar rindo deliberadamente ao lado de Nair Bello, enquanto uma legião de amigos e fãs choram a sua morte. As histórias permanecem. O sofá é que fica vazio.

Seis Lhamas


* Depois de três ou quatro copos, não consigo mais lembrar quem foi a autora da pérola, mas não pude deixar de achar graça com o comentário: que uma senhora que gosta de ser o assunto por conta de seus figurinos extravagantes estava na festa mais concorrida do fim de semana usando não um vestido, mas uma instalação.

* Frisson maior, só mesmo Lady Gaga, que me parece que voltou a trocar as sedas por carne na matéria-prima dos seus looks. A propósito, Gaga vem ao Brasil pra dois shows da turnê “Born This Way Ball” no próximo novembro. Rio e São Paulo, nos dias 09 e 11, respectivamente. A lista de exigências consegue ser mais polêmica do que a própria artista. Entre os itens que ocupavam trinta páginas, havia um no mínimo esquisito: seis lhamas. Sim, lhamas, sabe?

* Gaga foi eleita a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes no ano passado, desbancando Madonna, Hillary e Dilma. Semana passada, durante um show em Amsterdã, acendeu um baseado e disse que iria conversar com Obama sobre a questão da legalização.

Guerra dos Sexos


* A Globo vem apostando alto nos remakes, não apenas no seu novo horário de novelas – o das onze da noite – onde já pudemos rever O Astro e agora Gabriela, como também no horário das sete, que costuma ser o calcanhar de Aquiles da emissora. Depois de Ti Ti Ti, é a vez de Guerra dos Sexos voltar em versão revista e atualizada.

* Da versão original, mantem-se o tema da abertura que foi regravado pela turma do The Fevers, o autor Silvio de Abreu, o diretor Jorge Fernando e a criada Olívia, a empregada da mansão que foi vivida por Marilu Bueno há trinta anos e volta a encenar a personagem, como uma daquelas heranças que só as melhores famílias conseguem deixar para as novas gerações.

* Paulo Autran e Fernanda Montenegro trabalharam juntos pela primeira vez nesta novela. Já posso ouvir a voz do Faustão falando desses “monstros sagrados da televisão brasileira” – que Deus o tenha em bom lugar e que a conserve conosco por muitos papéis. A dobradinha ganha vida nova com Tony Ramos e Irene Ravache.

* A célebre cena do café da manhã vai ao ar no nono capítulo – acabo de assistir a original no Youtube e fico imaginando Tony Ramos tirando geleia daquele casaco de pêlos que ele usa [por baixo] em todos os seus figurinos. A nova novela começa amanhã, junto com o mês de outubro. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Festival de Veneza


* O festival de cinema de Veneza, um dos mais tridicionais da Europa – junto com Cannes e Berlim, aconteceu na primeira semana de setembro. Os dois prêmios mais importantes do festival são o Leão de Ouro e o Leão de Prata, para o melhor filme e o melhor  diretor, respectivamente.

* Quem levou o Leão de Ouro foi o filme Pietá, de um cineasta sul-coreano, que conta a história do sanguinário Kang-do, um sujeito que trabalha para um agiota e deixa deficientes os clientes incapazes de pagar suas dívidas.

* O Leão de Prata acabou nas mãos de Paul Thomas Anderson, por seu trabalho no filme The Master, inspirado no criador da Cientologia – a contraditória religião que tem Tom Cruise como fiel. O cineasta já havia se consagrado em outros festivais: ganhou o Urso de Ouro em Berlim por Magnólia [onde trabalhou com o próprio Tom Cruise] e o Urso de Prata por Sangue Negro, além de indicações ao Oscar.

Sem Mim


* A trupe mineira do Grupo Corpo desembarca este fim de semana no palco do Teatro Guaíra [Curitiba] para apresentar Sem Mim – e quem gosta deve aproveitar, porque não creio que eles cheguem ainda mais perto dos catarinenses nesta turnê.

* A inspiração vem do mar de Vigo, que leva e traz de volta o amado, o amigo. A trilha sonora é urdida a quatro mãos pelo viguês Carlos Núñez e pelo brasileiro Zé Miguel Wisnik a partir do conjunto de peças medievais do cancioneiro galego-português que atravessou o tempo com as respectivas partituras da época: o célebre “Ciclo do Mar de Vigo”, de Martín Codax.

* O trabalho da família Pederneiras, sobretudo do meu xará Rodrigo, coreógrafo do grupo, é reconhecido e aplaudido por plateias do mundo inteiro. Isso ninguém me contou. Eu mesmo vi o grupo ser ovacionado com intermináveis minutos de aplausos ao fim da apresentação de Breu num teatro da Avenue Montaigne, em Paris. Um orgulho!

Parque Industrial


* 1933 foi o ano sabático de Patrícia Galvão, a famosa Pagu da canção de Rita Lee. Ela havia sido presa ao participar da organização de uma greve de estivadores do porto de Santos e quando foi solta, em 1933, deixou no Brasil marido e filho – Oswald havia se separado de Tarsila pra ficar com ela – e partiu para uma viagem pelo mundo.

* Eu não sei se “sabático” é o termo mais apropriado pra este ano de descobertas, sem marido nem filho nem grades ao redor, já que ela não ficou exatamente sem trabalhar. Foi neste ano que ela publicou o romance Parque Industrial, que agora serve de inspiração e de título para uma exposição em São Paulo que discute a relação entre arte e consumo.

* A exposição Parque Industrial é um dos eventos satélites da trigésima Bienal de São Paulo e acontece na Galeria Luisa Strina, que convidou Julieta González para o posto de curadora.

* Uma das obras mais emblemáticas é composta de uma edição do livro O Capital, de Karl Marx, dentro de um saco monogramado Louis Vuitton, um dos suprassumos do desejo quando o assunto é consumo.

* A relação estabelecida pelo cubano Carlos Garaicoa é pertinente: ao colocar O Capital dentro da bolsa francesa, ele nos diz que os donos do capital, no caso a Vuitton, compreenderam perfeitamente os ensinamentos de Marx sobre o fetiche da mercadoria, a mais-valia e a exploração do trabalho pelo capital.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Rock of Ages


* Rock of Ages é um musical que foi escrito pra homenagear algumas bandas de rock da década de oitenta, especialmente aquelas que foram enquadradas no subgênero glam metal e fizeram parte da cena da Sunset Strip, em Los Angeles, naquela década.

* Um parêntese: enquanto isso tudo acontecia, eu estava ouvindo os discos do Trem da Alegria, do Balão Mágico e aguardando o próximo lançamento da Xuxa. Ou seja, qualquer coisa deste repertório eu só vim conhecer muito depois. Ainda hoje, quando leio o nome das bandas que fizeram parte deste movimento, me sinto lendo um alfabeto desconhecido. Não é minha praia.

* Falo isso porque o musical acaba de ganhar sua versão para o cinema, embalado no sucesso que tem feito em diversos palcos do planeta – está em cartaz na Broadway, no West End londrino e uma montagem acabou de ser anunciada para o fim do ano em Las Vegas, no hotel Venetian.

* É a história clichê de uma garota que sai de Oklahoma pra viver o sonho de ser cantora em Hollywood, apaixona-se pelo primeiro garoto que lhe dá atenção e ele consegue um trabalho de garçonete pra ela no lendário Bourbon Club, a casa que serve de cenário para os grandes shows.

elenco da versão cinematográfica do musical
* A mocinha da história é Julianne Hough, que fez sua estreia no cinema como uma das crianças de Hogwarts no primeiro filme da saga Harry Potter. Tão coadjuvante que sua personagem nem tinha nome. Aí cresceu, fez Burlesque com Cher e Aguilera eesteve recentementeno remake de Footloose.

* Seu par é Diego Boneta, que está super adequado para o papel de vítima da indústria fonográfica: o menino que ama rock’n’roll mas, em nome da fama, aceita fazer parte de uma Boyz Band. Na vida real, Diego é mexicano e apareceu num desses programas de calouros pra crianças – um Raul Gil do México. Se deu bem e entrou para o Rebelde.

* Catherine Zeta Jones, magérrima, faz o papel da moralista com telhado de vidro. Ela é casada com o prefeito da cidade e encabeça um movimento pra exterminar o rock’n’roll, essa doença que desemcaminha a juventude. Seus dotes musicais ficam um pouco encobertos pela carolice da personagem e os pavorosos figurinos da época.

* Tom Cruise é que foi a minha grande surpresa. Nunca havia trabalhado no gênero, tomou aulas de canto e arrebentou no papel de estrela do rock. Seu personagem, Stacee Jaxx, é um astro que vive os altos e baixos da carreira, super sedutor, mais dedicado aos prazeres da carne do que à disciplina que a agenda requer.

* E se você tivesse que escalar um nome pra viver o agente Paul Gill [o nome me parece uma homenagem ao guitarrista Paul Gilbert], de quem lembraria imediatamente? De Paul Giamatti, é claro, pelo flerte entre ficção e realidade nos nomes. O elenco conta ainda com Alec Baldwin no papel de dono do bar.

Don’t Stop Believing

* Dentre os números musicais, achei muito legal a fusão criada entre More Than Words [Extreme] e Heaven [Warrant], com um arranjo de cordas sobre aquela batida que imortalizou More Than Words e um crescente que desemboca num rock mais pesado.

* Mas certamente o número final é o grande momento do musical, com a canção Don’t Stop Believing, da banda americana Jorney, lançada em 1981. Essa música tem poder. Faz a gente querer cantar junto, cantar alto e não parar de acreditar, a pedido do título.

* Há poucos anos, o seriado Glee colocou a canção de volta às paradas de sucesso e a versão para o cinema do musical Rock of Ages deve lhe prestar a mesma homenagem. Um hino, com certeza!

Sunset Boulevard

* O Bourbon Room, bar onde se passa uma boa parte do filme Rock of Ages, fica na Sunset Strip – que nada mais é do que o pedaço emblemático da Sunset Boulevard.Acho que já disse uma vez, mas a Sunset Boulevard foi uma das maiores decepções da minha vida. Aquele tipo de lugar que a gente idealiza de um jeito nos nossos sonhos e que se revela o oposto in loco.

* Nos meus devaneios, a Sunset Boulevard era uma larga avenida com grandes canteiros e palmeiras balançando com o vento da Califórnia, a linha do horizonte à frente com o mar ali do lado, bicicletas, patins e gente sorrindo nas largas calçadas. Na realidade, é uma rua sem a menor graça, cheia de curvas, completamente urbana, barulhenta.

* Pior que isso, só o famoso letreiro de Hollywood, um dos cartões-postais de Los Angeles, que só se vê ao longe... e sempre bem de longe. Esse fetiche que a gente tem de escalar suas letras só se realiza no cinema, como em Rock of Ages.

* Na verdade, aquele lugar é uma propriedade privada e nem as locações de filmes acontecem lá. Neste caso, por exemplo, as cenas foram gravadas em um lixão de Pampona Beach, na Flórida, e depois devidamente maquiados com as luzes da cidade lá debaixo - o que Hollywood faz de melhor.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Mágico de Oz

* Tem lugares que conseguem nos evocar uma lista de lembranças felizes. O teatro João Caetano, na praça Tiradentes, bem no centrão do Rio de Janeiro, é um destes lugares. Tudo o que assisti neste teatro foi direto para a parede da memória.

* Não sei se consigo lembrar da minha primeira vez, nem da ordem cronológica, mas foi lá que assisti, por exemplo, a Ópera do Malandro e também o musical Gota D´Agua, ambos do Chico Buarque. Também foi lá que assisti, na estreia, o espetáculo Nó, da Cia Débora Colker, com Caroline Fischer na poltrona ao lado. Lembro que neste dia ela usou a expressão "xixi profilático", que eu nunca havia ouvido e fui aprender lá, no saguão do João Caetano.

* Assisti ainda no palco do João Caetano o musical Sete, escrito por Ed Motta e dirigido pela dupla Charles Moeller e Claudio Botelho - a mesma dupla que me fez voltar neste fim de semana ao João Caetano pra assistir O Mágico de Oz.

* Eu não fui conferir os números, o que quer dizer que posso estar sendo leviano no que vou falar, mas acredito que O Mágico de Oz tenha sido uma das peças mais montadas e mais assistidas da história do teatro mundial. Eu mesmo já assisti diversas vezes, e aqui quero confessar que acho a trilha sonora chata, muito chata, mas muuuito chata, exceto Over the Rainbow, que é linda e nem sei como pode fazer parte do mesmo conjunto. A grande maioria das músicas desta peça me fazem pensar nos sete anões voltando para casa.

* A história d´O Mágico de Oz eu creio que todos conheçam, o filme com Judy Garland é tão antigo quanto o gênero musical no cinema. Uma espécie de Alice no País das Maravilhas, uma garota que sonha com um mundo imaginário e, no sonho, quer voltar pra casa. Dorothy carrega um cachorro, o Totó. Alice um gato, que não a acompanha no espaço do sonho.

* O elenco é ótimo: Malu Rodrigues [a Bia de Tapas & Beijos] faz a mocinha da história, Pierre Baitelli - que já foi seu par no Despertar da Primavera - faz o espantalho que procura por um cérebro, Nicola Lama faz o Homem de Lata que quer um coração e Lucio Mauro Filho é o Leão Covarde em busca de coragem. Miele faz o papel do mágico. Aliás, esta é uma das poucas peças - a única que eu lembro, pra ser sincero - onde o personagem que dá título à peça não é protagonista. Pelo contrário, Miele entra em cena apenas duas ou três vezes, e se sai bem.

* No entanto, a grande surpresa que tive foi com a atriz Cristiana Pompeo, que deixou o seu papel de árvore na peça pra substituir Maria Clara Gueiros no papel de Bruxa Má do Oeste. Maria Clara, não sei por que razão, precisou ser substituída, e fez aquilo que nenhum ator deve fazer: abrir espaço para que outro mostre que pode fazer melhor do que ele. Eu ainda sou da opinião que não se falta nem em ensaio, quanto menos no dia da apresentação. Resumo da Ópera, Cristiana arrebentou.

* Tem ainda um outro rapaz no elenco que atende pela graça de Kostyantyn Biriuk, não fala uma palavra em português - pelo menos não em cena - e ganhou um papel de destaque que nem existe nas outras montagens. O rapaz fala apenas com seu corpo e os diretores inventaram um papel especialmente pra ele. Isso é o que eu chamo de ver alguém com bons olhos.

domingo, 2 de setembro de 2012

A Partilha - Revival



* Eu estava muito curioso sobre o retorno do quarteto que fez a plateia rir e chorar há vinte anos com a peça A Partilha. No início dos anos noventa, Natalia do Vale, Suzana Vieira, Arlete Salles e Thereza Piffer subiam ao placo do Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, para estrear aquele sucesso que se repetiria pelos próximos seis anos em doze países pra depois ainda virar uma das melhores comédias do cinema nacional e agora ter seu revival na cena carioca.

* A peça foi escrita por Miguel Falabella depois de uma ideia que a atriz Natalia do Vale deu a ele, quando os dois atuavam como irmãos na novela O Outro. Arlete também estava neste elenco. 

* O que eu não consegui descobrir foi o motivo de nenhuma das quatro atrizes da peça terem sido escaladas para o filme, o que gera uma comparação, e aqui também faço uma observação que é maior do que uma comparação: pra mim não existe elenco mais bem escalado do que o quarteto que fez o filme. As quatro da peça são boas. As quatro do filme arrebentam a boca do balão.

* Outra pergunta que não consegui responder foi sobre a substituição de Natalia do Vale por Patricia Travassos, já que a primeira, além de ter bem mais o perfil da personagem Selma, é também a mentora da ideia.

* Voltando à minha curiosidade sobre a peça A Partilha, ela nasceu principalmente pelas repetidas vezes que assisti ao filme. Quando eu via uma cena difícil de imaginar no espaço de um teatro, sempre ficava me perguntando como teria sido isso no original.

* Todas as perguntas foram satisfeitas agora que, com organização e sorte - sempre o fator sorte! - eu me sentei na primeira fila do teatro Casagrande pra assistir o retorno d´A Partilha. Foi ali que ri e chorei, como muitos, com essa história deliciosa que retrata a relação destas quatro irmãs.

* O texto do filme não é fiel ao texto da peça, e acho que nunca é quando se adapta uma peça de teatro para a tela do cinema, mesmo porque o cinema oferece muito mais possibilidades. Contudo, uma grande parte do texto está de acordo. Ipsis literis.

* Outra diferença relevante é que no filme, existem pelo menos meia dúzia de personagens a mais. Na peça, estes personagens são apenas citados nas histórias contadas pelo quarteto. E os espaços, que no filme são variados, no teatro se limitam à casa mortuária, na primeira cena, e no apartamento da mãe em todas as demais.

* Teve inclusive uma saída muito interessante na transformação do primeiro cenário no segundo: o caixão da mãe escondia o sofá da sala do apartamento. O público achou graça.

* Quem for passar pelo Rio neste mês de setembro, recomendo que inclua A Partilha no programa. É bem possível que você vá rir e chorar. E descobrir que toda família, sobretudo as grandes, possui a sua Selma, a sua Regina, a sua Maria Lúcia e a sua Laurinha.