
* O escritor sueco Stieg Larsson era jornalista e havia fundado a revista Expo, com sede em Estocolmo. Certo dia, no doce novembro de 2004, chegou à sede da revista e se deparou com o elevador em manutenção. Arriscou sete lances de escada pra chegar até o seu escritório e, em seguida, teve um ataque cardíaco. Morreu ali, aos cinquenta anos.
* Não viveu a tempo de ver sua trilogia Millennium ser traduzida e vendida em livrarias do mundo inteiro. Nem de saber que seus livros seriam transformados em filme. Isso tudo aconteceu há dois anos, quando já fazia cinco do evento da escadaria.
* Agora, seu nome volta a ser evocado por conta de uma nova filmagem de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, em cartaz nos cinemas da redondeza. Só fico um tanto surpreso com o espaço de tempo entre um filme e sua refilmagem. Dois anos é muito menos do que o hiato entre os filmes do Homem-Aranha, que eu já tinha achado perto demais.
Dragão Tatuado* Eu não sei falar sueco. Só de tentar pronunciar, a língua já fica perplexa. E se é verdade que o húngaro é a única língua que o diabo respeita, o sueco deve ter ficado entre o respeitável e o incompreensível.
* Digo isso com pesar, porque gostaria de saber qual a tradução literal dos títulos da trilogia Millennium no original, porque as diferenças entre o inglês e o português são irritantes. No inglês, por exemplo, Os Homens que Não Amavam as Mulheres chama-se The Girl with the Dragon Tattoo [algo como A Garota com Tatuagem de Dragão].
* O pior disso é sair do cinema com a sensação de que o título não faz justiça à obra e que a culpa é toda do tradutor. Em Portugal, é ainda diferente: Os Homens que Odiavam as Mulheres.
* Os demais títulos da trilogia também não escaparam dos equívocos. O segundo volume ficou bem no Brasil. The Girl who Played with Fire virou A Garota que Brincava com Fogo. Pena os nossos ilustres lusitanos terem estragado tudo em seu país: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo.
* Pra completar, The Girl who Kicked the Hornet’s Nest [que ficaria bem como A Garota que Chutou o Vespeiro] foi pessimamente traduzido como A Rainha do Castelo de Ar. Em Portugal é ainda pior: A Rainha do Palácio das Correntes de Ar.
* A título de esclarecimento, vale dizer que o livro A Menina que Roubava Livros não tem absolutamente nada a ver com essa trilogia, como já ouvi gente desinformada conversando por aí.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres* Suspense do meu número, eu que gosto de ficar preso à poltrona do cinema, mas que não suporto o susto pelo susto. Cinema não é trem-fantasma. Os Homens que Não Amavam as Mulheres tem isso a seu favor: não precisa apelar para o susto pra manter o suspense. Filme de gente grande.
* Pra quem não viu e não leu, trata-se da história de um jornalista investigativo [Daniel Craig] que acaba de ser condenado por algo que escreveu e não conseguiu provar. Então, pra mudar os ventos da sua carreira, aceita o convite de um grande empresário pra escrever sua biografia e tentar desvendar um crime que aconteceu em sua família no passado e que ficou sem solução.
* De repente, precisa contratar uma assistente. É aí que entra em sua vida a hacker Lisbeth Salander, a personagem encarnada pela atriz Rooney Mara numa atuação brilhante que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz – e é ela a verdadeira protagonista do filme, é ela a garota com a tatuagem de dragão e é ela que arrebenta em cenas dificílimas.
* A direção de arte é moderna, bem no estilo do diretor David Fincher – um velho conhecido por filmes como Seven, Clube da Luta, Benjamin Button e A Rede Social. Se você vai ao cinema pra se distrair, troque de filme. Mas se estiver a fim de encarar um thriller dos bons, está recomendado.