segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Xanadu


* Os grandes musicais ganharam solo fértil aqui no Brasil nos últimos doze anos. É lindo acompanhar o nível de produção e capricho pra conquistar o espectador com o gênero. Só que o público espera sempre mais.

* Não basta cantar, dançar, interpretar e sapatear. Tem que voar. E na era do 3D, não basta voar. Tem que voar por cima da plateia. Primeiro foi Mary Poppins que fez o vôo inaugural. Depois dela, o Homem Aranha e as Bruxas de Eastwick já voaram sobre os espectadores.

* Anteontem, no teatro Oi Casagrande, no Rio, os atores Danielle Winits e Thiago Fragoso sofreram um acidente durante apresentação do musical Xanadu. Os dois estavam pendurados sobre a plateia por um cabo de aço quando caíram, ferindo dois espectadores.

Los Hermanos


* O cenário do primeiro encontro foi a PUC do Rio nos anos noventa. Ali a gente pode dizer que nasceram Los Hermanos, uma banda com uma trajetória de sucesso bastante particular.

* Se você pedir a um cidadão comum que cante uma canção do grupo, é bem provável que ele não saiba nenhuma. Se você induzir, talvez ele consiga lembrar do refrão de Anna Julia, que estourou nas FMs e caiu no gosto dos ouvintes – e isso inclui George Harrison, que gravou a música.

* Mas não é pra escrever do cidadão comum que eu empunhei a pena, e sim daquele grupo pequeno que foi sendo seduzido pelas outras músicas da banda, desconhecidas das rádios. Um grupo pequeno que foi se multiplicando até lotar teatros onde todos cantavam em uníssono aquelas canções.

* Eu sou um deles e participei dessa cena. Em 2005, quando o quarto e último álbum chegou nas prateleiras, eu assisti aos barbudos no teatro do CIC, em Floripa. Foi um show pra pendurar na parede da memória.

* A plateia inteira cantando junto todas as letras, e minha amiga Karine Appel – que eu carreguei comigo – ficou sem entender direito aquele febre, já que nada daquilo era popular e, no entanto, todos ali sabiam de cor.

Turnê

* Um pouco depois disso, eles resolveram se separar. Os motivos nunca vieram à superfície, mas a História – com H maiúsculo mesmo – está repleta de demonstrações de que só cabe um galo em cada galinheiro e dividir a liderança entre Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante pareceu não funcionar.

* Resultado: os fãs ficaram órfãos. Marcelo lançou álbuns solo, Rodrigo também seguiu seu caminho até que um belo dia deu saudade e aceitaram voltar a se apresentar juntos. Foi uma loucura. Os ingressos não chegavam a esfriar nas bilheterias.

* Ano passado, divulgaram uma turnê para este ano comemorando os quinze anos, desde aquele primeiro encontro na PUC do Rio. Vão percorrer algumas capitais do Brasil em shows concorridíssimos, cujos ingressos se esgotaram tão logo quanto foram anunciados.

Re-Trato

* Você pode até torcer o nariz para as fusões de rock e MPB dos Los Hermanos, mas não dá mais pra ignorar a importância musical que eles conquistaram. Prova disso é a homenagem que vão receber, idealizada pelo blog Musicoteca.

* Trata-se da coletânea Re-Trato que trará mais de 30 artistas da cena indie reinterpretando a obra do quarteto. O resultado será um tributo em CD duplo – cada um com 12 faixas, mais 3 faixas-bônus e uma ilustração para cada música feitas pela artista plástica Luyse Costa.

* Entre os convocados para a homenagem, os curitibanos d’A Banda Mais Bonita da Cidade que fizeram uma bela releitura de Dois Barcos. Rodrigo Del Arc também fez um belo trabalho com O Vencedor. Tudo já no Youtube, óbvio.



quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Kim Dotcom


* O alemão Kim Schmitz, mais conhecido como Kim Dotcom, o fundador do site Megaupload.com, foi detido na Nova Zelândia a pedido do FBI que o acusa de pirataria em massa.

* Eu não o conheço. Dizem que é um sujeito de quase 2 metros de altura e 140 quilos. Também dizem que não é flor que se cheire, e que na sua casa foram encontrados passaportes e cartões de crédito com nomes diversos.

* Mas honestamente, sou grato ao Megaupload e a todos os seus congêneres pelo acesso que pude ter a alguns itens que – pelo preço, raridade ou outro motivo – não fosse por eles eu jamais encontraria.

* Se você entrar hoje no site, vai notar que o domínio foi confiscado, com direito a selo do Departamento de Justiça Americano.

A Dama de Ferro


* Meryl Streep é, disparado, o nome mais assíduo nas listas de indicados ao Oscar de Melhor Atriz. Este ano, ela recebeu sua 17ª indicação, sendo 3 vezes na categoria de atriz coadjuvante e todas as demais em um papel principal.

* A indicação deste ano é pela sua personagem no filme A Dama de Ferro, onde interpreta a ex-primeira ministra inglesa Margaret Tatcher. O papel rendeu polêmicas, já que o filme não foi feito pra elogiar a ministra, que ainda vive e está perto dos noventa anos.

* O curioso é que, com tantas indicações, Meryl só foi agraciada com o Oscar por duas vezes: em Kramer vs Kramer e n’A Escolha de Sofia. Desde 1983 ela volta pra casa com as mãos abanando.

* Este ano, a briga é de cachorros grandes: compete com as veteranas Glenn Close e Viola Davis e com as jovens Michele Williams e Rooney Mara.

Antessala


* Estamos na alta temporada das premiações de cinema. Anteontem, com o anúncio dos indicados ao Oscar 2012, o prêmio mais famoso e, talvez por isso, mais cobiçado, o momento me parece oportuno para certas ponderações.

* O Globo de Ouro sempre foi tido como um termômetro para o Oscar. Eu mesmo sempre simpatizei com a expressão e devo tê-la usado cada vez que toquei no assunto. Também me divirto com o aposto de “antessala do Oscar”, assim com essa grafia esquisita mesmo, consonante com a nova regra da língua portuguesa.

* Pois bem. Se pegarmos os últimos dez anos de Globo de Ouro e confrontarmos com os premiados dos últimos dez anos de Oscar, chegaremos ao veredito de que a exceção vai além da regra.

* Partindo da vantagem de que o Globo de Ouro premia duas categorias de melhor filme e o Oscar apenas uma, nesses dez últimos anos apenas quatro campeões do Oscar já haviam levado a estatueta do Globo de Ouro também [Quem Quer Ser um Milionário, Chicago, Uma Mente Brilhante e a parte final da trilogia O Senhor dos Anéis].

* No último ano, por exemplo, a Associação de Imprensa Estrangeira – que decide o Globo de Ouro – premiou A Rede Social, enquanto a Academia ficou com O Discurso do Rei. No ano anterior, o favorito da Associação foi Avatar, ao passo que a Academia elegeu Guerra ao Terror o melhor filme.

* Outro caso de desencontro total aconteceu no ano em que O Segredo de Brokeback Mountain arrematou os prêmios do Globo de Ouro e, na condição de favorito para o Oscar, foi desbancado por Crash – para quem o Globo de Ouro tinha dado nenhuma importância e uma única indicação na categoria de ator coadjuvante.

* Assim, nenhum dos premiados do Golden Globe deste ano – O Artista e Os Descendentes – foram campeões de indicações. Quem ficou na pole foi o filme de Martin Scorsese, a Invenção de Hugo Cabret.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Ano do Dragão



* No calendário chinês, ontem foi o primeiro dia do ano do dragão. E no oriente cada ano é de um animal, num ciclo de doze, que representa o zodíaco. Tudo bem que não parece muito lógico, mas se o assunto for lógica nosso calendário também não é um bom exemplo.

* Os meses setembro, outubro, novembro e dezembro trazem os números sete, oito, nove e dez nos seus nomes. Mas não estão nos seus devidos lugares, já reparou? Assim como fevereiro ser mais curto e os demais terem 30 ou 31 dias sem nenhuma ordem clara.

* Neste assunto, sempre vou ser fã do livro O Dia do Curinga, do norueguês Jostein Gaarder, que usa um calendário baseado nas cartas de um baralho comum. Basicamente, cada carta rege uma semana. A cada sete dias, temos uma nova carta. Como existem quatro naipes, cada número comporta quatro semanas – o que seria pra gente um mês.

* Além disso, cada naipe tem treze cartas, de ás a rei. Isso seriam treze meses em um ano. A matemática é perfeita: 13 cartas multiplicadas por 4 naipes são 52 semanas. 52 semanas vezes 7 dias são 364. Sobra somente o dia do curinga, que é o dia de celebrar o ano novo.

Fashion Week



* No país do carnaval, os fashionistas também têm seus dias de folia na São Paulo Fashion Week. Os dois eventos – o Carnaval e o SPFW – apesar de contrastantes guardam em si diversas comparações. É o trabalho de um ano inteiro pra oitenta minutos de avenida. Ou vinte de passarela.

* As pessoas comuns assistem a um desfile com certo espanto. Nenhum daqueles visuais parecem feitos para o comércio. Já o povo da moda se derrete em aplausos, e com toda razão: um desfile precisa ser um trabalho autoral, e não comercial. A roupa ali não é uma roupa, mas uma obra de arte.

Luiza e o Canadá

* Nos anos setenta, o evolucionista Richard Dawkins chacoalhava a comunidade científica com seu livro O Gene Egoísta onde cunhava um termo novo: o meme. O meme está para a memória assim como o gene está para a genética.

* É a sua unidade mínima, a unidade da informação que se multiplica de cérebro em cérebro – ou em outros ambientes onde se guarde informações. Um livro, por exemplo.

* De lá pra cá, a palavra ganhou outros contornos e serviu também pra batizar os fenômenos que se espalham através da internet. Um recente foi o vídeoclip d’A Banda Mais Bonita da Cidade que em três ou quatro dias passou de ilustre desconhecida para manchete do Fantástico.

* Isso antes da história da Luiza no Canadá. Pra quem não habita o universo virtual, vou explicar: um colunista social de João Pessoa estava fazendo um comercial para um condomínio de luxo. Um Amaury Junior com sotaque da Paraíba. Deu pra imaginar?

* Lá pelas tantas, o sujeito diz que “é por isso que fiz questão de reunir toda a minha família, menos Luiza que está no Canadá, pra recomendar esse empreendimento”. A câmera vai abrindo o foco e mostrando a família, sem graça feito um dois de paus. Exceto a filha Luiza, que estava no Canadá.

* A falta de importância que o fato guarda em si virou hit na internet. A princípio, falar do assunto era um jeito de dizer que ninguém está nem aí. Todavia, a cada clique Luiza foi se transformando em assunto nacional. Um triunfo publicitário.

* Faço coro com o apresentador de um telejornal: ou os problemas do Brasil estão todos resolvidos, ou nos tornamos perfeitos idiotas dando tanto espaço pra uma coisa tão sem importância. Com todo esse buchicho, Luiza já voltou do Canadá, já fez o comercial e já alavancou a venda dos apartamentos no tal condomínio. E nós já fomos mais inteligentes.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra



* Certa vez eu li – ainda lembro onde, foi no excelente livro Xadrez, Truco e Outras Guerras, do José Roberto Torero – que “difícil é resumir os pensamentos e temores da véspera de uma batalha, pois onde há dez mil homens haverá dez mil modos de encarar aquilo que pode ter tantos nomes gloriosos, mas que é, em essência, ir ao encontro da morte”.

* Eu gravei isso porque era o que eu achava e gostaria de ter escrito. E desde antes eu acho a guerra um absurdo e, provavelmente por isso, não gosto de filmes de guerra. Na verdade, fico incomodado de saber que aquilo tudo realmente aconteceu e continua servindo de inspiração para grandes filmes.

* Cavalo de Guerra, o novo filme sério do diretor Steven Spielberg, está na corrida para os prêmios desta temporada: era um dos candidatos a Melhor Filme no Globo de Ouro que aconteceu domingo à noite e que serve de termômetro para o Oscar.

* Nesta nova produção, Spielberg não conta com nenhuma celebridade no elenco, afinal de contas, a grande estrela é Joey, um cavalo – digital, diga-se de passagem – e seu dono Albie, interpretado pelo estreante Jeremy Irvine, acaba sendo um coadjuvante.

* O filme começa com um belíssimo plano aéreo de um vale no interior da Inglaterra onde Albie assiste ao nascimento de Joey. É o ponto de partida para uma melodramática história de amizade entre o garoto e o cavalo e de como o amor entre eles sobrevive a uma guerra, já que quando a Primeira Guerra estoura na Europa, o cavalo é vendido para o exército inglês pelo pai do garoto.

* A propósito, o momento em que a Inglaterra declara guerra contra a Alemanha ganha bastante evidência, me reportando ao último campeão do Oscar, O Discurso do Rei, cujo discurso final anunciava exatamente este momento histórico.

* É um filme repleto de momentos emocionantes, às vezes de uma forma bem genuína, mas em sua maioria de uma forma muito planejada e até forçada. Isso não tira o brilho do filme. Minha cota de lágrimas eu tenho derramado, e meu coração de manteiga se alterou com o calor das emoções.

* Mesmo assim, entendendo os motivos pelo qual o filme está entre os melhores do último ano e, por isso, concorrendo aos prêmios do cinema, não é o tipo de filme que vai conquistar a minha torcida. Vamos aos próximos candidatos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Estupro & Racismo



* O assunto incendiou as redes sociais e alavancou a audiência desta edição do Big Brother Brasil. Creio que não seja necessário eu contar os fatos, todo mundo já viu e foi assunto de Jornal Nacional.

* Mas se alguém chegou hoje da lua, talvez não saiba que na festa do último sábado na casa do BBB, Daniel e Monique beberam todas, se pegaram e foram pra baixo do edredom, onde só os lençóis tiveram acesso ao que realmente aconteceu.

* No dia seguinte, Monique, provavelmente tomada pela ressaca moral e o medo de colocar sua reputação em cheque, fez o que todo mundo faz: disse não lembrar de nada, como se isso amortizasse sua culpa.

* Desde então, a palavra estupro vem sendo utilizada com tantos equívocos que nem sei por onde começar. Estupro é um crime contra a liberdade sexual, que se consuma mediante violência ou grave ameaça. Quem viu o vídeo, notou que não houve absolutamente nada disso.

* Investigadores da polícia entraram na casa para apurar os fatos e apesar de ambos terem dito – com todas as letras – que foi tudo consensual, o episódio culminou na expulsão de Daniel do jogo. Sem despedidas nem maiores explicações.

* O princípio jurídico que deveria se impor é mais antigo que o próprio delito, e desde a Roma antiga já se sabe que c* de bêbado não tem dono.

* Parece que Daniel não pertence ao grupo de milhares de pessoas comuns que se inscrevem e enviam um vídeo pra participar do programa. Ele havia entrado como convidado e, pelo que andou falando na mídia, a contragosto.

* Mais absurdo que detonar Daniel falando em estupro, só mesmo tentar defendê-lo ao falar em racismo. Não tem o menor cabimento.

A Pele que Habito




* A turma que conhece meu paladar pra cinema insistia: veja o novo do Almodóvar, A Pele que Habito, porque vale muito a pena. É claro que não basta uma recomendação, mas também uma oportunidade – e este é o tipo do filme que não costuma entrar em cartaz por aqui, e quando entra dura o tempo de um pensamento.

* Até que descobri que uma amiga havia comprado o DVD pirata. Briguei com ela, disse que pirataria é crime e que ela não deveria ficar com a prova material do delito guardada em casa. Ela entendeu a mensagem e passou pra mim, que já estou pronto pra passar pra alguém.

* Achei um filme belíssimo, mais Almodóvar do que nunca – contrariando aqueles que acharam que o cineasta perdeu sua identidade neste filme. Almodóvar sempre se deu bem em situações-limite e explora muito bem os dramalhões que a vida é capaz de criar. Está para a Espanha como Glória Perez tenta estar para o Brasil, sempre mexendo em temáticas polêmicas e gerando confronto de opiniões.

* Renovou sua parceria com Antônio Banderas, que no passado lhe havia feito Matador, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, A Lei do Desejo e o excelente Ata-me, sobre a Síndrome de Estocolmo, onde a vítima se apaixona pelo seu seqüestrador. Fazia vinte anos que não trabalhavam juntos e valeu a espera.

* N’A Pele que Habito, Banderas interpreta um cirurgião plástico bastante concorrido em sua vida pública, mas cheio de ranços na vida pessoal. Movido por um desejo de vingança, aplica seus conhecimentos em transgênese numa experiência que começa como um acerto de contas e acaba numa paixão entre criador e criatura.

* O filme faz referência à mitologia grega com a história do Pigmalião [My Fair Lady também tem isso, mas de outro jeito]. Diz a lenda que Pigmalião era um exímio escultor que, horrorizado pelo comportamento das mulheres, optou por viver isolado e imerso em seu trabalho. Mas, como não era insensível à beleza feminina, esculpiu uma imagem de mulher, em marfim, por quem acabou apaixonado.