segunda-feira, 29 de junho de 2009

JEAN CHARLES


Jean Charles de Menezes era um brasileiro por excelência: malandro, cheio de lábia, bem-relacionado e profundo conhecedor do famoso “jeitinho”. Pra quem não liga o nome à pessoa, foi aquele emigrante confundido com um homem-bomba e morto no metrô de Londres com vários tiros à queima-roupa, pela Scotland Yard.

Sexta-feira passada estreou em circuito nacional um filme sobre sua vida. Quer dizer, não exatamente sobre a sua vida porque não há detalhes da infância caipira ou da primeira comunhão, mas do período em que se aventurou num país estrangeiro em busca de trabalho, repetindo a história de milhares de pessoas que partem todos os dias atrás do mesmo sonho.

O fim da história todo mundo conhece. Foi manchete dos jornais do mundo inteiro. O legal é conhecer o miolo, comovente, na pele do ator Selton Mello que reviveu o personagem de forma brilhante. Destaco também a atuação da Vanessa Giácomo no papel da prima que embarca na mesma aventura e o ator Luís Miranda, um gênio do humor, no papel de Alex.

Na reta final do filme, Daniel de Oliveira entra numa participação quase inexistente, bem menor que a de Sidney Magal, interpretando a si próprio, num dos bons episódios da vida de Jean Charles. Não dá pra perder!

domingo, 28 de junho de 2009

EXEMPLO


A brasileira Giulia Olsson tem catorze anos e faz intercâmbio nos Estados Unidos. Lá ela estuda música e, ao perceber que no Brasil as crianças não têm esse acesso no colégio, criou uma organização que batizou de Notes for Hope [Notas da Esperança].

Convidou amigos pra juntar-se a ela e com eles lavou carros, vendeu limonada na rua e fez apresentações musicais. Conseguiu levantar pouco mais de dez mil dólares, comprou 75 instrumentos de corda – violinos, violas e cellos – e doou ao Instituto Baccarelli, da favela de Heliópolis, a maior de São Paulo.

É um trabalho que poderia servir de exemplo a Caetano Veloso, Maria Bethania e Ivete Sangalo, só pra citar alguns dos que receberam milhões de reais através da Lei Rouanet pra viabilizar suas turnês.

MAIS UMA ESTRELA NO CÉU


Quinta-feira, 25 de junho de 2009, cinco horas de uma típica tarde de inverno – daquelas que combinam com bolinho de chuva. Meu celular apita uma mensagem: vem de Londres, através da amiga Izabela Sandrini, o anúncio da morte de Michael Jackson.


Michael foi um menino prodígio que emocionou o mundo com sua voz, seu talento, seu jeito novo de dançar. E como ele começou muito cedo, eu nem estava aqui para ver.


Quando me dei por gente, ele já havia iniciado seu processo de metamorfose. Éramos adolescentes eu e Flavia, minha irmã, quando ganhamos o álbum Dangerous – uma das grandes referências musicais na nossa geração.


Ouvimos aquele disco copiosamente até saber cada acorde, cada batida. Mas quando li aquela mensagem no celular, corri para um outro álbum, bem anterior. Foi ouvindo Ben que me sentei no computador pra acompanhar o noticiário e, do meu jeito, velar aquela estrela que partia em direção à grande constelação do infinito.


A estrela de Michael não se apaga. Antes de partir o homem, já havia nascido a lenda. A propósito do assunto, o milionário egípcio Mohamed Al Fayed anunciou sua intenção de erguer uma estátua do astro pop na Harrods, um dos lugares favoritos de Michael em Londres.


sábado, 20 de junho de 2009

DO FUNDO DO BAÚ


O Jornal Município Dia a Dia, onde assino uma coluna nas segundas e quintas-feiras, me encomendou uma especial pra constar no piloto que apresentou o novo projeto gráfico no jornal e circulou hoje na Strassenfest.


Então eu escrevi que há sempre uma dose extra de alegria em escrever uma coluna que inaugura um novo projeto, principalmente num ano repleto de comemorações: são 55 anos de notícia passada de mão em mão, de geração em geração, ultrapassando os anos e acompanhando o ritmo frenético que a própria vida de hoje nos impõe.

Também tenho meus motivos pessoais pra festejar: neste julho são dez anos participando dessa história sem trégua e sem jogar a toalha. Então decidi revirar meus baús empoeirados e encontrei doces recordações destes anos compartilhados com vocês: minha primeira coluna, naquela [cada vez mais] distante sexta-feira - 02 de julho de 1999, onde lancei-me a uma aventura pelo mundo das palavras numa proposta que ia do entretenimento às rodas sociais.

Encontrei também uma edição especialíssima que circulou na quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002: era a primeira edição do Município Dia-a-Dia, estreando a era do diário com uma manchete que dizia oportunamente que “Brusque tem muitas histórias pra contar, todos os dias”.

Naquela ocasião o site do jornal já estava no ar, minha coluna ainda se chamava Na Mira e usei um texto que falava da importância da renovação usando a águia como exemplo. Depois, no 06 de março de 2006, o jornal ganhou cara nova outra vez, a coluna ganhou meu nome e eu uma vizinha de papel. Cláudia Bia habitou comigo nesta cercania durante anos felizes das nossas vidas. Agora ela muda de página e eu construo um puxadinho no espaço que era dela.

Passear por toda essa papelada acumulada nestes dez anos é passear na minha própria história – as pessoas, os lugares, os livros, os filmes, os musicais, as bobagens todas. Tá tudo ali registrado. Impresso. Consentido. Dividido com o leitor de coração aberto.

Aproveito essa celebração pra renovar meus votos sem precisar disfarçar minha alegria de poder continuar fazendo parte deste dia-a-dia. É uma enorme satisfação. Brindo ao jornal, à vida e aos leitores como no filme do Poderoso Chefão: Cent’Anni! Vida longa que quem brinda comigo vive cem anos. Tim-tim!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O ÚLTIMO VOO


Recebi via-email como um texto publicado na Revista Exame. Não veio com título nem com autor, mas gostei e transcrevo aqui no blog pra compartilhar com quem se agradar. Abre aspas:


Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico.

Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 mil metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim.

Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos.

Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.

Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios, como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento ou quanto às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo.

Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro.

Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo.

Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem pra dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje. Então... na incerteza do amanhã, aproveitemos para sermos felizes hoje!!

domingo, 14 de junho de 2009

PRIMOS


Hoje a Má e a Gio estiveram no meu quarto e viram essa foto no painel. Aí resolvi postar ela aqui pra recordar nossa lovely family!!

INCENTIVO FISCAL



Li a notícia na Folha de São Paulo e fiquei com meu brio machucado. Caetano Veloso enviou um projeto pro Ministério da Cultura pra tentar aprovar, através da Lei Rouanet, o Tour Caetano Veloso – um projeto que prevê a realização do seu novo show “Zii e Zie” em 22 capitais pelo valor de R$ 2 milhões.

Num momento de lucidez, a comissão que analisa os projetos aspirantes ao benefício da lei negou o pedido com base num argumento bastante adequado: a receita de bilheteria torna desnecessária a utilização de incentivo fiscal. No entanto, é muito provável que essa decisão seja derrubada nos próximos dias pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, conterrâneo de Caetano.

Na mesma matéria, soube que no ano passado Maria Bethânia entrou com um projeto no valor de R$ 1,8 milhão para sua turnê. A comissão vetou, mas o ministro reviu a decisão e derrubou o veto.

Vejam bem: não estou aqui questionando a legitimidade do pedido, mas não posso aceitar calado que eles ganhem todo esse dinheiro através de incentivos fiscais e ainda cobrem a fortuna que cobram pelas apresentações. Porque um ingresso pro show do Caetano ou da Bethânia não custa menos de cem reais nem pendurado no balcão.

Podem achar que é dor-de-cotovelo. Guardadas as devidas proporções, o grupo de arte Alina Lamparina já enviou três projetos para o Funcultural que seria o equivalente aqui no âmbito estadual. Nunca recebeu sequer uma resposta. E nunca deixou de produzir diante desta falta de atenção. A diferença é que o grupo acaba tendo que repassar todo o custo da produção para o preço do ingresso, e ainda assim faz malabarismos pra trabalhar com preços populares.

sábado, 13 de junho de 2009

BUDAPESTE - O FILME


Expectativa é uma coisa frustrante, mas não consegui fazer diferente. Até porque eu achei o livro fodástico e o trailer do filme me colocou água na boca. Resultado: gostei do filme Budapeste, mas gostei sem querer ter uma cópia em casa pra rever milhares de vezes, como faço com outros filmes.

Aí começo a procurar uma explicação pra minha decepção e uma ideia me vem à cabeça: Chico Buarque tem a posse e a propriedade da língua portuguesa. E quando eu me emociono lendo a sua obra, essa emoção é fruto desse manuseio fluente das palavras, das combinações inusitadas, das nuances que a palavra escrita tem e que a imagem nem sempre consegue capturar.

Se uma imagem vale mais que mil palavras, Chico dá conta de achar a palavra que nem com mil imagens.

Pra quem não leu o livro, Budapeste conta a história de um ghost writer, ou seja, um sujeito que escreve para os outros e vende o texto sem assinatura, para que o comprador se aproprie da obra como se fosse de sua autoria.

De repente, esse escritor acaba em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, e se depara com o idioma local, o húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita.

A primeira frase do livro também aparece no filme na voz do protagonista-narrador Leonardo Medeiros: “devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira”. No entanto, essa aventura acaba se tornando uma vida paralela à que está acostumado e passa a se dividir entre duas cidades, dois idiomas, duas mulheres, duas famílias.

Quando eu digo que o filme não me fisgou completamente, isso não quer dizer que ele não tenha me emocionado. Tem algumas cenas que funcionam muito bem, em especial a cena diante da estátua do Escritor Desconhecido, sem traços na face.

Outra cena comovente é a cena em que ele está numa cabine telefônica em Budapeste telefonando para o Rio e a ligação está com eco. Ele deixa um recado na secretária eletrônica e fica ouvindo aquele reflexo sonoro, fruto do defeito da chamada, mas com saudade da língua-mãe a ponto de ficar saboreando algumas palavras soltas só pra poder ouvi-las de volta: Corcovado, Guanabara, saudade, marimbondo, adstringência.

É nesses momentos mais fiéis ao texto do Chico que o filme toca. Quero até transcrever um trecho que sublinhei e que aparece no filme, depois de um momento de verdades dolorosas: "...julguei que assim conseguiria tirar da cabeça as palavras que dissera à Vanda. Conseguia, mais ou menos, sempre sabendo que elas estavam por ali, que nem uma música de fundo, que nem um zumbido constante atrás do meu pensamento. Para esquecer aquelas palavras, talvez fosse necessário esquecer a própria língua em que foram ditas, como nos mudamos de casa que nos lembra um morto. Talvez fosse possível substituir na cabeça uma língua por outra, paulatinamente, descartando uma palavra a cada palavra adquirida. Durante algum tempo minha cabeça seria assim como uma casa em obras, com palavras novas subindo por um ouvido e o entulho descendo por outro. Sem dúvida me daria pena ver se desperdiçarem tantas palavras belas, azulejos, por culpa de umas poucas peças que eu usara de forma desastrada".

Mesmo assim, com grandes acertos, achei o filme longo e ao fim não tive o desejo de recomeçar. Estava cansado. E olha que o final é ótimo, ainda que no livro ele funcione melhor.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A NOIVA E EU


Rodrigo e Karine, pra eternizar o momento na fotografia.

CASAMENTO DA KARINE COM O FERNANDO


Meus amigos Karine Appel e Fernando de Souza subiram ao altar no sábado que passou [06] num casamento que movimentou nossa high society e entrou pra história dos grandes casamentos da cidade. Foi uma noite comme il faut!

Desde a chegada na Azambuja, especialmente iluminada de âmbar, até a recepção no salão do Band, reformado recentemente, tudo foi meticulosamente preparado pra se tornar inesquecível.

A entrada da noiva é sempre um momento de grande expectativa. Acima de tudo para o noivo, que entrou um pouco antes ao som de Eu Preciso Dizer que te Amo. Então fecham as portas e as trombetas anunciam com a introdução da Marcha Nupcial a chegada da noiva, digna de uma capa de revista especializada no assunto. Nessa hora, os lenços começam a cumprir seu ofício diante de tantos olhares marejados.

Trocam as alianças, juram amor eterno, recebem alguns cumprimentos e a comemoração segue no clube que é uma extensão da casa da família da noiva. A atmosfera é da mais pura alegria. As paredes na entrada ganharam revestimento especial pra noite e as tulipas [eram muitas] sorriam para os convivas que brindavam a data com champanhe.

Jantar nota dez, doces de vitrine, a festa continua em alto astral com a orquestra convidando a arriscar uns passinhos no salão. Quando a turma se deu conta, o sol já brilhava lá fora. A noite, memorável, virou dia. E ficou guardada na memória de quem esteve lá. Aos noivos, desejo muuuuitos anos de felicidade compartilhada.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A FAZENDA


A Record investiu pesado no reality show A Fazenda, que na sua primeira semana no ar já alcança um sucesso nos marcadores do Ibope. Pra quem não sabe do que se trata, é um Big Brother rural onde os participantes são celebridades.

O conceito de celebridade é que ficou um pouco dúbio depois que conheci a lista que entrou nA Fazenda. É que a maioria é celebridade por tabela: amigo de celebridade, filho de celebridade, esposa de celebridade e ainda assim nem tão celebradas quanto se esperava.

Mas é uma turma boa que em uma semana já armou um bocado de barracos: O cabeça é o ator Dado Dolabella. Depois tem a Babi Xavier da 1ª geração da MTV, o ator Jonathan Haagensen do filme Cidade de Deus, a Luciele Camargo – uma filha de Francisco, a Mulher Samambaia e o Mendigo do Pânico, o modelo Miro Moreira que é um amigo muito, mas muito íntimo do Gianechini e outros que nem sei explicar de onde surgiram.

SOBRE AS ÁGUAS


Reza a lenda que três homens andaram sobre as águas na história da humanidade: o primeiro foi Cristo. O segundo foi Pedro. O terceiro foi Ivangivaldo. Peraê... quem é Ivangivaldo?? Ivanginaldo é o ilustre desconhecido no retrato acima.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

LEITE DERRAMADO


Normalmente, quando a gente vai chegando nas últimas folhas de um livro, é normal apressar o passo e querer terminar logo pra conhecer o desfecho da história.

Em Leite Derramado, eu tive uma sensação estranha e oposta. Quando me dei conta que estava no último capítulo, comecei a economizar parágrafos, a ler mais devagar com o mesmo receio que a gente tem de acordar de um sonho bom. Ao fim, tive aquela triste visão do fundo da lata, antes coberta de balas e doces.

Já não é mais segredo toda a minha reverência por Chico Buarque, e o que alimenta esse gosto antigo é que ele sempre consegue safistazer minhas grandes expectativas.

O livro conta em primeira pessoa a história de um homem centenário num leito de hospital. Oriundo de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido às enfermeiras e a quem aguentar ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual.

O Chico consegue uma coisa tão incrível que é manter a ordem de começo, meio e fim e ao mesmo tempo embaralhar a ordem cronológica das coisas e repetir as ideias como os velhos costumam fazer e até justificar isso no texto, como num trecho em que sublinhei:

“Se com a idade a gente dá pra repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar”.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O SUICÍDIO DE GLORINHA


Glória era uma milionária “de berço” e muito gostosa. Um dia, Glória descobriu que o seu pai era veado. Descontente da vida, incapaz de aceitar a situação, resolveu se matar.

Mas não podia se matar como qualquer outra criatura, afinal, ela, Glória, era milionária, e ficar se atirando de qualquer viaduto ou ponte, cortando os pulsos ou tomando formicida era coisa de suicida pobre. Ela queria se matar com classe, de forma diferente, em grande estilo.

Mandou aprontar o jatinho da família e só com o piloto se mandou para o céu. Pretendia se atirar lá de cima. Durante o vôo, enquanto se preparava para o salto fatal, ela foi indagada pelo piloto a respeito do gesto extremo que ia executar e, chorando, contou a ele o que ocorria: “Papai é veado. Não consigo conviver com essa vergonha e vou me matar”.

Vislumbrando uma possibilidade, já que ele sempre havia cobiçado aquela mulher, o piloto sugeriu que dessem uma antes de ela se matar. Glória concordou, afinal, para quem ia morrer, não custava nada quebrar o galho de um humilde piloto que se declarara tão apaixonado por ela.

E assim foi. Piloto automático no avião e “tome-lhe e tome-lhe”. Glória gostou tanto que desistiu de se matar.

Qual é a moral da história? GLÓRIA DEU NAS ALTURAS E O PAI, NA TERRA, AOS HOMENS DE BOA VONTADE

segunda-feira, 1 de junho de 2009

DIVÃ



Felizmente [e digo isso satisfeito] o monólogo Divã com que Lilia Cabral colheu um bruto sucesso no palco se transformou num filme delicioso.

Lilia é uma atriz que já conseguiu deixar sua marca nas nossas caixas de recordações, desde aqueles olhos esbugalhados de Dona Amorzinho, a beata que interpretou na novela Tieta, até as colocações desconcertantes da Catarina na novela A Favorita, passando por papéis memoráveis como a Maria Lúcia no filme A Partilha.

No filme Divã, ela arrebenta. Acho incrível como ela tem o tom certo pra cada parágrafo. Fora da sala de cinema eu continuava ouvindo ela repetir as frases de efeito do filme.

“Não era amor. Era uma sorte, uma travessura. Não era amor. Eram dois travesseiros. Dois celulares desligados. Não era amor. Era sem medo. Não era amor. Era melhor”.

Depois, a agilidade com que o filme te jogava no caldeirão e em seguida na cachoeira deixa as nossas emoções à flor da pele. A gente chora de rir, e depois ri de tanto chorar.

Trilha sonora escolhida a dedo pelo expert Guto Graça Mello, incluindo alguém cuja voz não reconheci cantando Sua Estupidez, do Roberto e uma música francesa lindíssima como as músicas francesas costumam ser.

No mais, faz a gente pensar numa porção de questões importantes. Nossas pendências, nossas resistências. E para as mulheres que se identificarem com a personagem e um belo dia notarem que o tempo está a passar diante da sua janela, sente diante do seu cabeleireiro e dispare em alto e bom som: “Repica, Renê. Repica!”