quarta-feira, 25 de abril de 2012

Barraco de Feira


* Bas fond nos bastidores da Feira do Livro de Bento Gonçalves, que a cidade gaúcha organiza para a primeira quinzena de maio. Tudo por conta do cachê excessivo que a coordenação da feira destinou ao Gabriel o Pensador, patrono do evento.

* O escritor Fabrício Carpinejar parece ter sido o pivô da polêmica, quando muito oportunamente cancelou sua participação através de uma carta onde critica os organizadores pelos 170 mil reais reservados ao rapper carioca.

O Preço da Ilusão

* Na carta que enviou à Coordenação da Feira do Livro de Bento Gonçalves, Fabrício Carpinejar diz que o artista não tem culpa por pedir tal valor, mas que a prefeitura tem inteira responsabilidade de acatá-lo e não informá-lo da real capacidade cultural do município.

* Tomo a liberdade de editar alguns fragmentos da carta: literatura não deve ser feita para atrair público, e sim para formar público. Feira do Livro não é Oktoberfest, uma plataforma popular de shows musicais e apresentações midiáticas.

* Feira é intensificar leituras em escolas e universidades para propiciar debates com escritores durante uma semana. Uma receita simples e imbatível: ler e comentar, ler e discutir, ler e produzir idéias coletivamente e transformar o pensamento.

* Trazer grandes nomes com dinheiro público a preços estratosféricos é sempre a forma mais rápida de projeção nacional. A literatura é o modo mais lento, entretanto, com efeitos definitivos e perenes. A ilusão custa mais caro do que o sonho.

Saco Cheio

* Depois do episódio, Gabriel o Pensador deu uma entrevista onde disse estar de saco cheio com o assunto. Reuniu-se com o prefeito de Bento Gonçalves e renunciou o cachê de 170 mil reais, mas cancelou o show e a distribuição de 2 mil livros.

* Quando pediram ao rapper pra discriminar este montante, justificou que o valor de cada livro é 35 reais. Dois mil exemplares custam, então, 70 mil reais. Mais 60 mil que é o cachê pelo show. Ainda faltam 40 mil pra fechar a conta.

* E vamos e convenhamos: 35 reais por livro é preço de livraria. Das mãos do autor, poderia ser tranquilamente a metade. Well, well, Gabriel...

sábado, 21 de abril de 2012

Avenue Q


* Demorou quase dez anos [a estreia foi em 2003] mas finalmente me rendi aos encantos da adorável vizinhança da Avenida Q, uma rua fictícia de Nova York que batiza um musical delicioso. Eu não botava muita fé por puro preconceito aos bonecos até que minha amiga Roberta Montagnoli me disse que eu precisava ver.

* Avenue Q é um musical inspirado na Vila Sésamo – quando eu era criança eu tinha um dicionário ilustrado com seus personagens – num roteiro que toca em pontos como preconceito, racismo, propósito de vida, o schadenfreude, que quer dizer o prazer sobre a desgraça alheia, a brevidade das coisas e a fina linha que separa as diferentes intenções. Tudo com uma trilha sonora sensacional.

Off Broadway

* Avenue Q estreou Off-Broadway e, devido ao grande sucesso, entrou em seguida no circuito da Broadway, onde permaneceu até 2009. Durante este tempo, foi montado também em Londres e em Las Vegas. Cinco semanas depois de sua última apresentação, voltou a um teatro Off-Broadway onde permanece em cartaz até hoje.


* Mas o que isso quer dizer? Durante anos eu me equivoquei sobre a diferença entre uma produção da Broadway e uma Off-Broadway. Principalmente porque o nome sugere que tenha a ver com a localização. Ledo engano.


* Como muito já sabem, a Broadway é uma avenida que cruza uma grande fatia do mapa de Manhattan. É, acima de tudo, um endereço. Mas a maioria dos teatros não estão nessa avenida, e sim nas tranversais, nas imediações da Times Square. O que diferencia um teatro da Broadway para um Off-Broadway é o número de pessoas que ele pode abrigar.


* Para ser Broadway, precisa haver pelo menos 500 lugares. Abaixo disso, é Off-Broadway. Isso também implica nos custos das produções e em uma série  de fatores que geram outras diferenças. Mas a principal é esta.

Confusões


* Essa confusão com os teatros da Broadway me fez lembrar de uma série de outras. Eu já confundi Maldivas com Malvinas. Já confundi Frank Lloyd Wright com Andrew Lloyd Weber. Já confundi Madame de Pompadour com Georges Pompidou.


* Confundi Kandinsky com Leminski, Luís Carlos Prestes com Luís Carlos Prates e Whoopi com Oprah. Também troquei várias vezes o nome da Reese Witherspoon com o da Drew Barrymore. E Mao Tse Tung com Lao Tse.


* Ainda confundo os meses com trinta e os meses com trinta e um. Confundo nomes de doenças e sempre esqueço como se chama aquela das múltiplas personalidades. Esquizofrenia, lembrei.


* Confundo health com wealth, campanário com minarete e nunca sei se berinjela é com G ou com J. Pequenas confusões que fazem a gente exercitar o bom hábito da pesquisa. Só não chamei urubu de “meu louro” porque sou avesso à qualquer bicho dado a bater asas.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Newsies

* No início dos anos noventa, a Disney lançou um filme chamado Newsies, cujo ator principal era um adolescente galês pouco conhecido que atendia pela graça de Christian Bale. Naquele tempo, um personagem como o Batman e uma estatueta do Oscar eram sonhos distantes.

* Aqui no Brasil, o título foi traduzido como Extra! Extra!, já que o filme é baseado na história real da greve dos jornaleiros em Nova York no fim do século dezenove.

* Foi um fracasso de bilheterias. Aliás, o fiasco foi tão grande muita gente – eu inclusive – nunca tinha nem ouvido falar sobre esse filme. E o que acontece com um filme que vai mal diante do grande público? Vira cult.

* Newsies começou a ganhar um grupo de defensores e admiradores. O movimento cresceu e o filme acaba de ganhar sua versão para os palcos da Broadway – foi a melhor surpresa que tive nesta temporada em NY.

* Desde O Despertar da Primavera que eu não assitia a um musical com tanto punch. A pegada é forte e a plateia nao economiza nos aplausos. Arranjos lindos como só a Disney sabe fazer e coreografias irretocáveis do celebrado Kenny Ortega, coreógrafos de sucessos como Dirty Dancing, High School Musical e Material Girl, da Madonna.

* Soluções estratégicas de cenários e elementos de cena, muitos arrepios, algumas lágrimas e o desejo de sair do teatro com o programa, o poster, o CD, o DVD, a camiseta, o chaveiro e a caneca. Inesquecível!


My Valentine

* Sir Paul McCartney é o tipo de sujeito que dispensa qualquer aposto e qualquer apresentação. Seu nome fala por si e reúne multidões por onde passa desde os tempos dos Beatles. Neste sábado, ele faz o primeiro show da sua turnê brasileira em Recife, e na próxima quarta-feira [25] estará em Floripa.

* Quase setentão, Paul deve estar com o mesmo pique que mostrou há dois anos num show de três horas. Desta vez, deve mesclar seus hinos com canções do disco novo – um trabalho de intérprete onde garimpou músicas que fizeram parte da sua história.

* Neste novo álbum – Kisses on the Bottom – somente duas músicas são de sua autoria. Uma delas é a romântica My Valentine, cujo videoclipe conta com ninguém menos que Johnny Depp e Natalie Portman, um par à altura do compositor e do convidado para a faixa Eric Clapton.

* O clipe é música para quem não pode ouvir. Depp e Portman se restringem a representar a letra da canção na linguagem dos surdos-mudos.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Singing in the Rain


* O sentimento glorioso de cantar e dançar na chuva [what a glorious feeling... I´m happy again], eternizado em Technicolor por Gene Kelly, acaba de completar sessenta anos desde o seu lançamento. O ano corrente era 1952 e, coincidência ou providência, minhas duas avós, mocinhas à época, apareceram grávidas ao cabo do ano.

* Pra celebrar o número raso, o filme musical ganhou um revival nos palcos de Londres, com direito a um toró na célebre cena da chuva. Pra quem não lembra da história, é uma história de amor que usa como pano de fundo a transição do cinema mudo para o cinema falado.

* Um momento que é especial no filme e sensacional no teatro é a canção Make ‘Em Laugh – fazer rir é sempre uma arte – com uma coreografia que requer, além de fôlego pra cantar e dançar, grandes habilidades.

* O detalhe é que o elenco não poupa a plateia: as primeiras fileiras saem do teatro de cabelos molhados – e de alma limpa. Eu, que gosto de ser da turma do gargarejo, fiz questão de tomar aquele banho.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Master Class

* A peça de Terrence McNally, atualmente em cartaz em Londres, faz justiça ao seu título: Master Class é, de fato, uma Aula Magna. Todo artista – sobretudo aqueles que se lançam à aventura de cantar – merece passar pelo crivo de Maria Callas.

* Mas antes uma observação: fiquei espantado com a quantidade de pessoas que nunca ouviram falar de Maria Callas, cada vez que conto sobre as peças que assisti recentemente.

* Maria Callas foi apenas a maior soprano de todos os tempos, uma americana de ascendência grega que viveu uma paixão arrebatadora com Aristóteles Onassis – esse eu espero que vocês conheçam – e morreu antes d’eu nascer. Seu corpo está enterrado no Père Lachaise, em Paris, mas sua voz continua a ecoar nos melhores teatros do mundo.

* Voltando à peça: o diretor faz uma sábia opção por uma protagonista não cantora, até porque seria muito atrevimento de qualquer uma achar que pode cantar como Callas. Então Tyne Daly está perfeita no papel, com uma excelente caracterizaçãoda personagem, inclusive no “greek accent”.

* Enquanto avalia alguns cantores, Callas mostra porque se tornou a melhor. O panorama que ela traça sobre a interpretação de uma canção faz toda a diferença. Quem puder, se jogue!


Hospitaleiros



* Muito oportuno o artigo do Alexandre Garcia publicado no jornal Município Dia a Dia na edição de sexta-feira [13], onde ele traz à luz da superfície o problema de hotelaria no Rio de Janeiro, quando a cidade se prepara pra receber 50 mil pessoas por conta da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

* Atualmente, a cidade conta com 32 mil leitos de hotéis e, conforme a estação, já é difícil de conseguir um destes 32 mil. Em menos de dois meses, teremos um vexame. Sem falar dos 80 chefes de Estado e das 120 delegações estrangeiras que também estarão na cidade, onde aumenta consideravelmente a demanda de hospedagem de alto nível.

* Uma vaga no Copacabana Palace ou no Fasano será disputada na queda de braço: o braço que ostentar mais jóias leva a suíte.

* O problema é apenas uma prévia do que está por vir. A Copa é em dois anos e eu vou sentar na plateia pra assistir o Cristo Redentor abraçando o mundo. Certamente, vai faltar braço.

* Minha bola de cristal mostra o jeitinho brasileiro resolvendo todo e qualquer problema. Afinal de contas, somos hospitaleiros por natureza. Quem é que vai se negar a oferecer um “bed and breakfest” em sua própria casa, com a boa possibilidade de fazer um extra? Posso ver os anúncios estourando na internet feito pipoca.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ghost - the Musical

* O ano corrente era 1990 quando uma Demi Moore de cabelos curtinhos fazia par com Patrick Swayze num dos grandes sucessos da história do cinema – o filme Ghost, que aqui no Brasil ganhou o subtítulo desnecessário Do Outro Lado da Vida.

* Desta vez, vou me abster da sinopse acreditando que o leitor já viu e reviu este clássico, e se por acaso você for da turma que nasceu tarde, veja porque Ghost faz parte de todo e qualquer repertório de cinema.

* Em julho do ano passado, o filme ganhou versão musical nos palcos do West End, em Londres. Quando eu vi o cartaz, me vesti com todo o meu preconceito e pensei “É bucha!”. Descartei a possibilidade até esbarrar numa propaganda do show num cinema de Londres.

* Ali se acendeu uma luzinha. Recentemente, voltei à cidade com o plano de quebrar o paradigma que eu havia criado e assistir à versão musical. Cinco estrelas. Foi simplesmente uma das melhores surpresas da viagem. Poucas vezes eu fiquei tão impressionado com efeitos especiais, porque além de tudo, o musical é um show de mágica.

* Com a iluminação jogando a seu favor, o protagonista Sam atravessa paredes, ocupa espaços que já estão ocupados, levanta do próprio corpo [como no filme], surge em cena do nada e assim como chega desaparece.

* A cena da luta entre o “amigo” e o fantasma de Sam é primorosa. O som é digital, o que faz toda a diferença. A trilha sonora é linda, com destaque para o diálogo cantado que antecede a cena da morte, com a canção Three Little Words. E Unchained Melody, surradíssima, ganha roupas novas e emociona a plateia. O sucesso da peça é tão estrondoso que acaba de abrir uma filial na Broadway, em Nova York.

Dirty Dancing


* Por falar em Patrick Swayze – morto em 2009, vítima de um câncer no pâncreas – acabo de ler a notícia de que o roteirista e produtor Brad Falchuk, co-criador do seriado Glee, será responsável pelo roteiro de uma nova versão do filme Dirty Dancing, que este ano comemora 25 anos desde seu lançamento.

* A canção The Time of My Life, escrita para o filme, marcou a trilha sonora da vida de muita gente e tocou à exaustão, tendo permanecido por semanas, meses e anos na lista das mais tocadas. Recentemente, voltou numa versão remixada pelo Black Eyed Peas.

To Rome With Love

* O novo filme de Woody Allen, To Rome With Love – ainda sem título em português – ganhou seu primeiro trailer. Depois de colher os louros de Meia-Noite em Paris e até de rejeitar a colheita, já que nem foi à festa do Oscar onde foi premiado com a estatueta de melhor roteiro original, ele foi explorar os cenários italianos. É um filme rodado totalmente na Itália e inspirado na obra clássica Decamerão, de Boccaccio. São quatro histórias distintas que compõe a comédia romãntica. No elenco estão Penélope Cruz, Roberto Benigni, Ellen Page, Alec Baldwin e o próprio cineasta. A estreia no Brasil está prevista para junho.