sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Spotlight


* Spotlight, um dos oito candidatos ao prêmio principal do Oscar 2016, o de melhor filme, faz um mergulho no polêmico [e triste] universo da pedofilia entre padres.

* A história – baseada em fatos e estatísticas reais – tem seu núcleo na redação do jornal Boston Globe, mais especificamente na facção batizada de Spotlight, especializada em grandes reportagens investigativas, que emprestou o nome.

* O filme mostra como a Santa Igreja acobertou este tipo de prática relocando os padres comprometidos em outras paróquias e, com o discurso de que seu trabalho é importante dentro da comunidade, acaba desviando o olhar de todo mundo para o seu lado bom, negligenciando os fatos.

* O diretor e roteirista Tom McCarthy também está indicado ao Oscar nas duas categorias, assim como os atores Mark Ruffalo e Rachel McAdams, ambos na lista dos coadjuvantes, gerando uma dúvida: se os dois são coadjuvantes, quem seriam os principais nesta história?


* Além deles, o elenco conta ainda com Michael Keaton, donde surgiu a brincadeira que esta é uma oportunidade de ver Batman [Keaton] e Hulk [Ruffalo] juntos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Dois Pontos

* Há exatos dez anos, dois fatos marcantes ocupavam as manchetes. Duas coisas que, provavelmente, ninguém irá lembrar em nenhum tipo de retrospectiva, mas que mudaram o curso da história, mesmo sem nenhuma conexão entre uma e outra.

* A primeira delas foi a entrada dos nossos hermanos uruguaios na era anti-tabaco, com uma nova legislação proibindo o cigarro em qualquer ambiente público fechado do país. A gente entrou no rastro e as noites passaram a ser mais felizes para os que tinham que lidar com a fumaça alheia.

* Hoje parece inconcebível que as pessoas – há não tanto tempo – fumavam deliberadamente em qualquer metro quadrado emparedado, inclusive dentro de aviões.



* Outro episódio se deu na longínqua Suécia, mas foi transmitido ao vivo e estremeceu todos os quadrantes da nossa carta geográfica. Uma apresentadora chamada Charlotte Burström quebrou o paradigma de que mulheres não sofrem de flatulência e peidou.

* Isso mesmo: a doce Charlotte peidou! E peidou no ar, ao vivo, em rede nacional. No curso do seu telejornal, a repórter loura e linda soltou um sonoro peito.

* O mais engraçado foi o que se seguiu. Ela não sentiu sua carreira desabar com aquele pum. Apenas baixou a cabeça pra não revelar sua cara de semidesconforto. E riu. Riu sozinha enquanto soltou também um breve ooops!, como quem diz “desculpa, escapou!”


* Charlotte Burström inspirou a mulher do terceiro milênio. A mulher que não foi apenas pro mercado de trabalho. Quis mais. Quis também peidar! Exatamente como os homens. Fez e aconteceu. Um verdadeiro marco na história. Um divisor de águas.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão


* A escravidão é uma das vergonhas que teremos que carregar pelo resto da nossa História. De bom, não nos trouxe nada – a não ser pelas obras de arte. Não há como não se comover com O Navio Negreiro, de Castro Alves: “se o velho arqueja, se no chão resvala, ouvem-se gritos, o chicote estala e voam mais e mais...”

* Igualmente doloroso é o filme 12 Anos de Escravidão, do diretor inglês Steve McQueen. Eu fico imaginando a sensação de redenção que deve ser para um cineasta negro poder mostrar no cinema uma cena de açoite sem filtros. Não alivia as feridas herdadas dos seus ancestrais, mas se compartilha.

* Trata-se da real história de Solomon Northup, um negro nascido livre que mora com sua esposa e filhos em Saratoga quando, em uma certa noite, é sequestrado e vendido como mercadoria, sendo obrigado a trabalhar como escravo durante doze anos.

* Num primeiro momento, Chiwetel Ejiofor recusou a oferta de McQueen pra encarnar o personagem de Solomon, mas depois aceitou o desafio de viver o grande papel de sua vida. Para tanto, o ator mergulhou numa plantação de algodão na Louisiana e aprendeu a tocar violino.

* Depois de Solomon, a grande personagem do filme é Patsey, vivida pela estreante Lupita Nyong’o, que empresta o lombo para a impactante cena das chibatadas.


* O filme teve nove indicações ao Oscar, nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator [Ejiofor], melhor atriz coadjuvante [Lupita], melhor ator coadjuvante [Michael Fassbender], melhor roteiro adaptado, figurino, montagem e design de produção.

O Mordomo da Casa Branca


* Outro filme que traz à superfície uma reflexão necessária sobre o racismo é O Mordomo da Casa Branca, inspirado na história real de Eugene Allen, um mordomo que trabalhou por 34 anos na Casa Branca e atravessou oito administrações, tornando-se patrimônio histórico da instituição.

* Como o filme não firma um compromisso com a verdade dos fatos, optou-se por adicionar efeitos dramáticos e transformar o personagem em Cecil Gaines, vivido pelo “oscarizado” Forrest Whitaker.

* A propósito, o filme não recebeu nenhuma indicação ao Oscar, mas o desfile de celebridades no elenco é o próprio tapete vermelho, desde grandes divas do cinema como Vanessa Redgrave e Jane Fonda passando por estandartes feito Robin Williams e John Cusack até chegar no black power contemporâneo, excedendo as cotas com Cuba Gooding Jr., Terrence Howard, Mariah Carey, Lenny Kravitz e até Oprah Winfrey, digna de muitos elogios.


* Vai para a mesma prateleira de Histórias Cruzadas, junto com os filmes indispensáveis sobre racismo e a luta pelos direitos civis dos negros na América.

Perguntas


* O artigo de J.R.Guzzo na Veja da semana passada foi implacável. Guzzo, que já foi o diretor de redação da revista, diz que o governo subestima a capacidade dos brasileiros de pensar com a própria cabeça – talvez porque muitos brasileiros realmente não o façam.

* Entre as perguntas que faz às autoridades federais, questiona a inércia do governo que assiste – sem tomar providência alguma – o estelionato praticado contra o trabalhador brasileiro com o dinheiro do Fundo de Garantia. Ao longo dos últimos quinze anos, cerca de 20% do dinheiro do fundo sumiu, mastigado por cálculos de reajuste sempre abaixo da inflação.

* O Brasil deve ter uma safra recorde de 90 milhões de toneladas de soja este ano. Um quinto da produção será jogado no lixo, porque os portos brasileiros não tem condição de escoar uma produção de tamanho volume. Por que Dilma, então, deu de presente a Cuba um porto de 1 bilhão de dólares enquanto nossa soja apodrece no pé?

* E a promessa da construção de 6 mil creches, que ao fim do prazo fixado bateu a marca de somente mil, e os mais de 880 aeroportos regionais que ela conseguiu a proeza de não entregar nenhum – um só que fosse. Dilma também prometeu ferrovias que não vai entregar e águas que não vai transpor, nem do São Francisco, nem de lugar nenhum.


* A resposta comum em todos esses casos é a falta de dinheiro. Mas vale lembrar que, mesmo com o dinheiro escasso, o governo paga 54 mil reais por mês de aluguel para dar um teto ao seu diplomata-mor em Nova York. Uma conta pequena, pra quem gastou 1,4 bilhão na construção do estádio Mané Garrincha, em Brasília. Mas quem não tem dinheiro precisa fazer muita conta.

Ela


* Ela do título é Scarlett Johansson. Mas não em carne em osso. Somente na voz e no imaginário, já que o espectador – de posse da informação que trata-se da voz da atriz – não pode deixar de imaginá-la ao ouvi-la.

* O filme Ela ambienta-se em um futuro próximo e fala de um tema que hoje soa maluco, mas que amanhã pode muito bem se cumprir: o relacionamento entre um homem e o sistema operacional do seu computador.

* O personagem de Joaquin Phoenix, durante seu processo de separação, encontra consolo nos “braços” de Samantha, que deu a si mesmo o nome, depois de ler, em milésimos de segundos, um livro com centenas de milhares de sugestões de nomes. Isso é possível porque Samantha é um sistema operacional de computador, fique claro.

* O diretor Spike Jonze, que já trazia na bagagem esquisitices de sucesso como Quero Ser John Malkovich, foi feliz na realização deste trabalho, onde consegue lançar um questionamento interessante sobre os sentimentos.

* Em uma das cenas, a ex-mulher [vivida por Rooney Mara] argumenta que a paixão por um sistema operacional não é real. Acontece que toda paixão é real. Todo arrepio, toda lágrima, toda dor de barriga é real. O motivo que despertou o sentimento pode não ser real, mas a emoção é sempre real.


* Concorre ao Oscar em cinco categorias: melhor filme, melhor canção original, melhor trilha sonora, melhor design de produção e melhor roteiro original, esta última com mais chance de levar a estatueta pra casa.

Jesse Owens


* Eu baixei um aplicativo no meu telefone chamado History Quiz. É um jogo onde aparecem quatro imagens fazendo referências a um personagem ilustre da História e você precisa adivinhar quem é.

* Passei semanas encalhado nas imagens de um corredor, pareciam fotos antigas, o sujeito era negro mas não tinha uma única pista sobre a nacionalidade dele, nem a época, nem nada.

* De repente, sentado no cinema com a menina que roubava livros na minha frente, a resposta cai no meu colo: Jesse Owens. O atleta e líder civil norte-americano ganhou quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim em 1936 e aparece como ídolo do personagem Rudy, que no filme é um grande corredor e pinta o rosto de preto pra ser tão rápido quanto Owens.


* Reza a lenda que Hitler teria se ausentado do estádio diante da vitória de um negro para não ter que cumprimentá-lo.