quinta-feira, 1 de março de 2012

O Artista


* Imagine que o céu esteja completamente fechado e ainda assim você tem o palpite de que não vai cair um toró. Era assim que eu me sentia diante das previsões para o Oscar que aconteceu no domingo.

* Apesar de todos os dedos dos especialistas no assunto apontando para O Artista, meu coração estava com Hugo Cabret naquela disputa e foi ele – meu coração! – que coloquei na mesa de aposta. Pior: perdi!

* Dos nove filmes que concorriam ao prêmio principal na noite de domingo eu havia assistido seis, inclusive o vencedor, donde eu me sinto confortável pra me chatear com o resultado. O Artista é um belo filme, mas Hugo é um filme digno de todos os prêmios.

* Eu considero o cinema-mudo, enquanto gênero, uma espécie de máquina de escrever. Ela pode ser linda, exalar poesia e te transportar para o cruzamento mais movimentado da tua nostalgia. Mas ainda assim é uma obsoleta máquina de escrever. Não tem mais cabimento.

* Nesses termos, eu teria aplaudido O Artista se ele conseguisse realmente comunicar toda a sua idéia sem lançar mão das palavras, como um mímico que se expressa somente com o seu corpo. Mas não foi o caso. Quando as palavras se faziam necessárias, elas vinham escritas na tela – tal e qual antigamente.

* A diferença é que antes não existia o cinema falado e escrever era o único jeito de dizer. Hoje não tem mais cabimento. Escrevendo na tela, até o cachorrinho pode falar – e olha que no assunto expressão corporal o cachorrinho está em pé de igualdade com o resto do elenco.

* Não quero ser injusto: o filme tem seus momentos líricos e me emocionei, sim. A cena em que ela interage com o casaco dele é uma delícia, apesar de não ser original. Quando ele começa a ouvir também é genial, assim como o “acidente” da penúltima cena. Mas é um filme que me fez olhar no relógio mais de uma vez – e isso é um sintoma clássico de que dura mais tempo do que deveria.

* Sei que os eruditos irão criticar minha falta de sensibilidade e os fãs dos blockbusters não virão ao meu socorro, porque nem saberão do que se trata. É uma opinião solitária até o momento. Mas preciso ser sincero. Comigo mesmo.

Resultado

* Nos últimos cinco anos, houve duas ocasiões em que eu fiquei mais desapontado do agora com o detentor da estatueta dourada mais cobiçada do cinema.

* Em 2008, os irmãos Cohen derrotaram o meu favorito Desejo e Reparação com aquela porcaria que chamaram de Onde os Fracos Não Têm Vez – um filme que nem precisaria existir.

* Em 2010 também deu zebra. Guerra ao Terror não poderia nunca ganhar de Avatar. Mas ganhou. O que me consola este ano é que O Artista não é um filme terrível como os outros dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário