sexta-feira, 16 de março de 2012

Pílulas


* Um artigo no Jornal do Brasil traz à superfície um assunto que acabou se tornando corriqueiro: as pessoas que recorrem ao álcool, às drogas e sobretudo às pílulas – pra agüentar o repuxo do dia-a-dia.

* É um ciclo que inclui um comprimido pra dormir, outro pra acordar, mais um pra passar a dor e mais outro pra ficar feliz. Assim, a indústria de tranquilizantes, sedativos, estimulantes e antidepressivos vai enchendo o seu porquinho.

Save the Last Dance for Me

* Eu sei. Nem todos os dias são dias de sol, e a chuva, quando falta, pede-se – isso é Fernando Pessoa. Mas eu tenho um antídoto pra tristeza que posso recomendar, e você pode até criticar, mas não antes de experimentar.

* É simples: compre um disco do Michael Bublé que se chama It´s Time. Ali você vai encontrar uma música chamada Save the Last Dance for Me. Tranque-se na sala de casa, coloque esta música no modo “repeat” e deixe que a canção cuide de todo o resto.

Entrelinhas

* A letra da música é sobre um sujeito que diz à sua companheira que ela está livre pra perambular a noite inteira, contanto que guarde a última dança pra ele.

* Na série americana Spectacle, no episódio que Elvis Costello recebeu Lou Reed, veio à tona a inspiração da canção – e eu sou encarnado nas histórias por detrás das canções.

* Lou Reed, que havia trabalhado com Doc Pomus, autor da música, contou que ela foi escrita no dia do casamento de Doc com Willi Burke, enquanto o noivo, na sua cadeira de rodas, via a noiva dançar com seus convidados.

* Pomus teve poliomielite e, às vezes usava um par de muletas para saracotear. Sua esposa era atriz e dançarina da Broadway. Na perspectiva dele, ela pode dançar à vontade, mas lembra que no fim da noite, é nos seus braços que ela vai pra casa.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A Separação


* O filme iraniano A Separação, que faturou o Oscar de melhor filme estrangeiro e todos os outros prêmios criados nesta categoria, é um filme pra refletir. A pergunta que eu me fazia, na saída da sala escura, era sobre a função do cinema.

* Creio que os filmes bons sempre são aqueles que nos fazem refletir. Nesse sentido, A Separação é super eficiente. Mas também acredito que o entretenimento é a palavra-chave que a gente busca quando vai ver um filme. E é aí que A Separação é um desastre, porque não há cristão com um mínimo de sensibilidade que não saia arrasado de lá.

* Se você tem o mau hábito de reclamar da vida, pare de chorar suas pitangas e assista a esse filme pra ter uma bela referência sobre dureza. É um barraco atrás do outro.

* Contudo, o aspecto mais irritante do filme não chega a ser este, mas sim o estilo detestável onde a câmera fica sempre na mão [deve haver um nome técnico pra isso em cinema, mas não me ocorre agora] e nunca sobre uma base firme, como na Bruxa de Blair, lembram?

* Se você tiver visto todos os outros filmes da lista do Oscar, então vá adiante e assista A Separação pra fazer parte do seu repertório. Mas se você tiver outra opção, daquelas com final feliz, deixe esta pra uma outra ocasião.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Palácio do Fim


* Um dia, José Wilker andava por Nova York quando, num fim de rua, avistou uma pequena aglomeração logo abaixo de um letreiro que dizia Palace of the End. Acabou embarcando na ideia e saiu de lá determinado a comprar os direitos da peça e montá-la aqui no Brasil.

* Reuniu Camila Morgado, Vera Holtz e Antonio Petrin e o resultado é um sucesso: estreou no fim do ano passado no teatro Poeira, no Rio, e agora está com a temporada esgotada até abril no Sesc Consolação, em São Paulo.

* Baseada em relatos verídicos, Palácio do Fim apresenta três visões particulares sobre o drama da guerra no Iraque. A peça descreve com precisão e intensidade a forma pela qual três vidas, mesmo em lados opostos de um conflito, podem ser modificadas e conectadas pela barbárie.

* Palácio do Fim, referência à antiga sede da câmara de tortura de Saddam Hussein, leva o público a observar como, nas mais diferentes culturas, a irracionalidade traça sempre o caminho da dor.

Tiro Certeiro


* A festa do Oscar foi morna. Não sei como estava no teatro Kodak, porque ainda não fui convidado, e até isso acontecer o teatro já terá outro nome – a Kodak está em processo de falência – mas do lado de cá da tela, achei a cerimônia morna, sim.

* Afora a canja da trupe do Cirque du Soleil, que foi incrível, o assunto mais comentado da noite foi a pose de Angelina Jolie. O casal Jolie-Pitt, aliás, jamais passa despercebido. Ele concorria à estatueta de melhor ator e desfilou no tapete vermelho vestindo o que um homem pode vestir de melhor: Angelina.

* Quem quis botar defeito, achou ela muito magra. Quem nao quis, reconheceu toda a sua majestade, até o momento da pose. Copiada repetidamente por todos. Pra quem não viu, foi no momento em que subiu ao palco pra apresentar um dos prêmios da noite. Colocou uma mão na cintura, quebrou um pouco o quadril e deixou a perna da frente escapar pela racha do vestido exageradamente.

* Mesmo sem concorrer a nada, Angelina foi o assunto. Não acredito que tenha sido sem querer. A mídia é o combustível dessa gente. O tiro foi certeiro!

Vou de Táxi


* Se você nasceu neste milênio e é capaz de ler essas linhas, tenho certeza que conhece Zac Efron, o astro da franquia High School Musical. No entanto, se você é do milênio passado, não há nada de errado em não conhecê-lo.

* Talvez eu ajude com uma referência mais adulta: é o garoto protagonista do filme Outra Vez 17. Não viu? Veja. A história é boba, mas o texto é sensacional. Além do mais, ter 17 novamente está sendo ótimo. Pelo menos pra mim, que acabei de entrar na faculdade.

* Voltando ao Zac: esteve essa semana no Brasil pra participar da inauguração da John John Denim no shopping Higienópolis, em São Paulo.

* O ator saiu de Hollywood especialmente pra marcar presença na inauguração de uma loja. Pense no empenho e nas cifras que gravitam em torno do evento. Agora pense que, chegando aqui, o moleque não compareceu. Motivo: muita gente e pouca segurança. Mico internacional.

* Pra não dizer que as horas de voo foram em vão, Zac participou da gravação do quadro “Vou de Táxi”, no programa do Luciano Huck.

O Artista


* Imagine que o céu esteja completamente fechado e ainda assim você tem o palpite de que não vai cair um toró. Era assim que eu me sentia diante das previsões para o Oscar que aconteceu no domingo.

* Apesar de todos os dedos dos especialistas no assunto apontando para O Artista, meu coração estava com Hugo Cabret naquela disputa e foi ele – meu coração! – que coloquei na mesa de aposta. Pior: perdi!

* Dos nove filmes que concorriam ao prêmio principal na noite de domingo eu havia assistido seis, inclusive o vencedor, donde eu me sinto confortável pra me chatear com o resultado. O Artista é um belo filme, mas Hugo é um filme digno de todos os prêmios.

* Eu considero o cinema-mudo, enquanto gênero, uma espécie de máquina de escrever. Ela pode ser linda, exalar poesia e te transportar para o cruzamento mais movimentado da tua nostalgia. Mas ainda assim é uma obsoleta máquina de escrever. Não tem mais cabimento.

* Nesses termos, eu teria aplaudido O Artista se ele conseguisse realmente comunicar toda a sua idéia sem lançar mão das palavras, como um mímico que se expressa somente com o seu corpo. Mas não foi o caso. Quando as palavras se faziam necessárias, elas vinham escritas na tela – tal e qual antigamente.

* A diferença é que antes não existia o cinema falado e escrever era o único jeito de dizer. Hoje não tem mais cabimento. Escrevendo na tela, até o cachorrinho pode falar – e olha que no assunto expressão corporal o cachorrinho está em pé de igualdade com o resto do elenco.

* Não quero ser injusto: o filme tem seus momentos líricos e me emocionei, sim. A cena em que ela interage com o casaco dele é uma delícia, apesar de não ser original. Quando ele começa a ouvir também é genial, assim como o “acidente” da penúltima cena. Mas é um filme que me fez olhar no relógio mais de uma vez – e isso é um sintoma clássico de que dura mais tempo do que deveria.

* Sei que os eruditos irão criticar minha falta de sensibilidade e os fãs dos blockbusters não virão ao meu socorro, porque nem saberão do que se trata. É uma opinião solitária até o momento. Mas preciso ser sincero. Comigo mesmo.

Resultado

* Nos últimos cinco anos, houve duas ocasiões em que eu fiquei mais desapontado do agora com o detentor da estatueta dourada mais cobiçada do cinema.

* Em 2008, os irmãos Cohen derrotaram o meu favorito Desejo e Reparação com aquela porcaria que chamaram de Onde os Fracos Não Têm Vez – um filme que nem precisaria existir.

* Em 2010 também deu zebra. Guerra ao Terror não poderia nunca ganhar de Avatar. Mas ganhou. O que me consola este ano é que O Artista não é um filme terrível como os outros dois.